Ruy Martins Altenfelder Silva
(Correio Braziliense, 19/04/2017)
Os princípios éticos são fundamentos importantes para nortear as ações das pessoas num país que se pretenda verdadeiramente democrático e justo. Não se trata de uma sociedade utópica, como a construída por Thomas Morus, mas de práticas perceptíveis e necessárias, porém, “esquecidas nos dias atuais”.
Ao acompanhar o noticiário veiculado diariamente, o leitor se depara com relatos de denúncias de corrupção, desmandos e abusos de autoridades em diferentes níveis e de mau uso do dinheiro público – ações essas que remetem claramente a questões de desvios éticos e morais. E, como uma praga que se dissemina, tais práticas atraem seguidores em velocidade e reverberação tão impressionantes quanto a propagação de um novo vírus pela internet ou de um vídeo cômico no Youtube.
Um dos antídotos mais eficazes para essa ameaça letal à liberdade, à democracia e à civilidade é a educação. Tanto aquela que aprendemos dentro de casa, desde os primeiros anos de vida, com os pais, como também – e principalmente – aquela transmitida na escola por mestres na melhor acepção da palavra. As instituições de ensino – que todos devem frequentar – precisam assumir o compromisso de educar seus alunos dentro dos princípios da ética e da democracia.
Quando se incutem na criança e no jovem tais conceitos, quase certamente eles os seguirão na idade adulta – pautando desde os pequenos atos do dia a dia até os grandes momentos do exercício da cidadania.
É o momento mais do que propício para pôr em debate e cobrar uma postura clara, geral e irrestrita em favor da ética. Postura que deverá ter início com o apoio de todas as instâncias do poder público e da sociedade organizada a um projeto educacional destinado a formar cidadãos dotados de capacidade crítica e de saberes que os tornem aptos a atuar, nas mais variadas esferas sociais, com competência, responsabilidade e consciência cívica.
Não se trata, aqui, apenas de uma questão de moral nem restrita à educação. A ética está acima da moralidade; é, na verdade, um valor inerente aos direitos e deveres dos cidadãos. Mas não um valor que nasce por geração espontânea; ao contrário, resulta de decisão individual refletida e seguida de uma prática vigilante e diuturna. Aristóteles, com toda sua sabedoria, já dizia na Antiguidade clássica que “nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza; adquirimo-las por exercício”. Não é descabido associar a crescente onda de violência que marca as ruas, que vem invadindo os muros escolares e estimula a formação das verdadeiras gangues de bairro ou de torcidas organizadas. Os frutos? Ações e ilícitos que configuram desrespeito contínuo à lei e à ordem jurídica, denotando a rarefação dos parâmetros de convivência civilizada em sociedade.
Os professores têm papel fundamental na formação dessa juventude que dirigirá a economia e conduzirá o desenvolvimento do País. Com exemplo e coragem, devem mostrar a seus alunos a importância da aceitação de limites, dos valores – solidariedade, compromisso, honestidade, estudo, trabalho – e do respeito às normas e aos princípios que deles decorrem. Isso vale tanto para o relacionamento entre chefia e subordinados no mundo corporativo como para professores e alunos em sala de aula, ou pais e filhos na convivência familiar.
E o professor – esse profissional pouco valorizado pela sociedade, negligenciado pelo poder público e desrespeitado por pais e alunos, sem formação adequada e com remuneração quase tão baixa quanto a sua autoestima – é um pilar importante para propagar esses conceitos.
Por tudo isso, merece ter o seu papel resgatado por todos e cada um em particular. A escola deve ser um local de formação de cidadãos e difusão de valores que inspirem cidadania e ética. Mas para que ela realize missão de formadora de novas gerações é necessário que o governo e sociedade também a consagrem como espaço da ética, resgatando a autoridade dos mestres e colaborando para o aprimoramento de suas relações com a comunidade, os pais e os alunos. Até porque disseminar os princípios éticos na escola é, antes de tudo, garantir uma sociedade mais justa e mais humana para as novas gerações.