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  • Fonte: Carolina Ramos

            É preciso esclarecer: - a pergunta que serve de título a este artigo, foi feita em 2013 e, nessa mesma época, publicada na imprensa.

            Hoje, sob o mesmo enfoque,  repito-a ante as condições ainda bastante deploráveis que regem os passos do magistério, neste nosso Brasil de contrastes absurdos.Carolina 12 12 2017 400 a9b82

            De admirar, e Deus nos livre se assim não fosse,  que alguém ainda escolha esta carreira, que sempre mereceu o honroso título de ser uma das mais honrosas e  dignas profissões do mundo, apesar de tão injustiçada ainda  em nossos dias!   

         Tudo o que intrinsicamente tem de bom, o mundo deve à ação orientadora  de um dedicado Professor!

            Isto porque, partir do instante em que assume a responsabilidade de educar uma criança, ou jovem, o Mestre é dono desse destino, ainda que por tempo breve.  Tempo esse precioso, por mais curto que seja, uma vez que os primeiros ensinamentos podem durar por uma vida inteira, se condignamente instalados na mente e no coração de quem os recebe.

            Durante esse breve tempo, ao Professor, e àqueles que o sucedem, é facultado fincar as bases seguras do edifício humano. E a partir dos alicerces, tornar o indivíduo apto para  abrir portas e adentrar o futuro com maior confiança  em si mesmo.

               Quem monitora a chave dessas portas é a dedicação, é o empenho do Professor na execução do seu edificante dever. Cabe-lhe entrega-la em mãos do aluno, que, ao chegar, sequer imagina o que há por detrás daquelas portas  e nem o fantástico panorama que ante  seus olhos, aos poucos,  se abrirá.

            A amplitude dos objetivos, as dificuldades para atingi-los e os sacrifícios que a sagrada missão do Professor exige,  fazem do magistério nobilíssima profissão entre as mais nobres! Motivo de orgulho para quem, com vocação verdadeira a abraça com a dignidade com que deve ser abraçada, ciente, desde os primeiros passos, das injustiças e dos sacrifícios que acompanharão sua jornada de trabalho, nem sempre recompensada à altura do que merece.

            Quinze de Outubro é o Dia do Professor. O  que vem a seguir, ajuda a ressaltar a magnitude dessa memorável data:

            Relato uma história, fidedigna e extraordinária, que ouvi de alguém que já não está entre nós, para confirma-la. Repasso-a, ciente de que o acontecido espelha perfeitamente a alma do Professor, cuja missão confunde-se com  sua própria vida.

            O fato aconteceu há algum tempo, na Faculdade de Medicina de Santos. Assunto: - Cardiologia. O Mestre explicava a ação daquele bomba preciosa, indispensável à vida e que, se desativada, mata. Foi quando, surpreso, pressentiu a chegada do enfarto! – A dor ardida a espremer-lhe o coração... o ar em fuga... os batimentos descontrolados... a pressão angustiante nos maxilares – enfim, o diagnóstico indiscutível –  risco de morte iminente, reconhecido sem erros, pela dualidade daquele homem  que, empolgado, exercia a sua missão  didática, mas admitia também, a responsabilidade de, como  médico, não esconder perante si mesmo o temor, consciente, do instante decisivo que atravessava.

            O preciosismo do instante didático, entretanto, superou o medo do cardiologista. E por decisão heroica, aquele homem duplamente qualificado, calou-se . O alerta do Médico retraiu-se, em respeito  à impulsiva e empolgada determinação do Mestre.

            Antes de apelar para qualquer socorro urgente, a última aula daquele Professor, que fechara os ouvidos aos riscos que enfrentava, facultou aos alunos seguir, ao vivo - com o auxílio do estetoscópio acoplado ao peito da vítima, o decurso minucioso e progressivo de um enfarto do miocárdio!

            Para desconsolo de tantos, o médico enfartado, ou seja, o querido Prof. Dr. Milton Estanislau do Amaral, não chegou vivo ao Pronto Socorro da Santa Casa de Misericórdia de Santos.

            Imprudência? Empolgação? – Ambas! - é o que qualquer um diria.

          E para que a dúvida não empane a o brilho de uma atitude heroica, urge dar resposta à indagação sugerida pelo título dado a esta homenagem, embora já respondida no decorrer dos fatos: 

           - "Fim do Professor ? - Absolutamente não! 

         - Melhor seria dizer: - Professor, até o fim!”- já que esta edificante história  evidencia o mais desmedido e abnegado amor pelo Magistério, que alguém possa imaginar!                                                    

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