Durante séculos, médicos, profissionais de saúde e religiosos testemunharam como a doença leva as pessoas a refletirem sobre o significado da vida, propósito e transcendência, relacionamento com o eu, com a família, com os outros, com a comunidade, com a sociedade, com a natureza e com o sagrado. Em uma situação onde o ser humano fica frágil, é que surgem esses questionamentos, é nos momentos de dor que o ser humano para para pensar sobre a vida, sobre os porquês das doenças.
A aproximação com o Sagrado torna-se algo muito importante para que se possa enfrentar algo novo e assustador, onde não se consegue lutar com as próprias forças, recorrendo-se a um Ser maior, para transcender e tentar conseguir ultrapassar os momentos de dor e sofrimento. A busca do Sagrado torna-se então necessária e é feita através de conexões mais profundas com a família e amigos, através de comunidades e práticas religiosas.
Muitos profissionais de saúde ignoram regularmente as dimensões da espiritualidade quando consideram a saúde dos outros ou até mesmo de si próprios. Essa negligência relativa representa um afastamento da história substancial que liga a saúde, a religião e a espiritualidade na maioria das culturas.
Aumentam consideravelmente o número de estudos e trabalhos publicados em revistas científicas de reconhecido valor dentro do meio científico, abordando a possibilidade da associação entre a religião e a saúde.
O acúmulo de evidências que ressaltam a riqueza da interconexão entre a fé e a saúde começam a informar estratégias para a saúde da população.
Numerosos são os estudos publicados na literatura médica que atestam a relação entre espiritualidade e saúde. Existem evidências comprovando a redução da mortalidade cardiovascular, do controle dos níveis da hipertensão arterial, da melhoria dos sintomas da depressão, da ansiedade, bem como a melhoria da qualidade de vida dos pacientes em fase terminal.
Estudos sugerem que, embora a maioria dos pacientes considere o cuidado espiritual, poucos o recebem, pois poucos são os profissionais de saúde que se dispõe a entrar nesse paradigma.
Um estudo multicêntrico que incluiu 75 pacientes com câncer avançado e 339 enfermeiros e médicos mostrou que, apesar de 86% dos pacientes considerarem o cuidado espiritual como importante para o tratamento do câncer, 90% nunca receberam nenhum tipo de cuidado de seus enfermeiros oncológicos ou médicos!
Outro estudo com 100 pacientes com câncer de pulmão avançado e 257 oncologistas médicos analisou sete possíveis fatores que deveriam estar presentes na tomada de decisão médica. Nessa avaliação, os pacientes classificaram a fé em Deus como o segundo fator mais importante, enquanto os médicos classificaram esse fator como o menos importante.
Em um estudo prospectivo de 343 pacientes com câncer avançado, aqueles cujas equipes médicas (por exemplo, clínicos, capelães) atenderam às suas necessidades espirituais, tiveram escores de qualidade de vida no seu final, que foram, em média, 28% maiores do que aqueles que não receberam tal cuidado espiritual.
Outros estudos indicam que a maioria dos pacientes com doenças graves, passam por lutas espirituais internas, por se sentirem punidos ou abandonados por Deus, determinando uma piora importante na qualidade de vida, já complicada pelas enfermidades. Cabe aos profissionais de saúde, interlocutores primários com os pacientes, aliviarem seu sofrimento, ponderando sobre o entendimento da doença, tentando reduzir a carga emocional negativa da culpa.
Todas essas descobertas sugerem a necessidade dos clínicos integrarem o cuidado espiritual em ambientes de final de vida para os pacientes que desejam recebê-lo.
Assim, os profissionais de saúde devem começar a abordar as necessidades espirituais dos pacientes sem, no entanto, ultrapassar limites da individualidade, respeitando sempre o livre arbítrio das decisões pessoais.