Flávio A Quilici e Lisandra M Quilici
Por: Dra. Cynthia Resende C. Herrera - Neurologista
O QUE É AVC?
AVC é a sigla para a enfermidade “Acidente Vascular Cerebral”, o popular "derrame". Ele ocorre quando há comprometimento da circulação sanguínea em uma área do cérebro, que pode ser por entupimento (AVC isquêmico) ou pela ruptura de uma artéria (AVC hemorrágico). Quando uma área do cérebro deixa de receber fluxo sanguíneo adequado, os neurônios (é como são chamadas as células nervosas do cérebro) daquela região deixam de receber oxigênio e glicose, que são essenciais para seu funcionamento. Por isso, eles param de funcionar, levando a perda rápida de alguma função, como de movimentos, da fala e ou do rosto (boca entorta). Se o fluxo sanguíneo não for restaurado a tempo, os neurônios podem ficar comprometidos de forma irreversível, levando a comprometimentos definitivos e potencialmente graves.
FREQUÊNCIA
É a doença que mais afeta a capacidade funcional, cognitiva e de independência do indivíduo, na população em geral. Pode deixar sequelas motoras, e ou, na capacidade de comunicação, de visão e de raciocínio. Incide em todas as faixas etárias, até mesmo antes do nascimento, mas é bem mais comum após os 60 anos. O AVC isquêmico corresponde a mais de 80% dos casos.
FATORES DE RISCO
Os principais são: hipertensão arterial, arritmias cardíacas, diabetes, altos níveis de colesterol ruim (LDL), tabagismo, etilismo e obesidade. Estas comorbidades estão associadas à aterosclerose das artérias, uma espécie de entupimento por formação de placas de gordura e cálcio nas paredes dos vasos, que leva à diminuição ou mesmo a parada de fluxo sanguíneo da região cerebral afetada. Outro fator de risco importante e subestimado, é o sedentarismo e quanto mais cedo ele é combatido, maiores são os benefícios porque evita o aparecimento de aterosclerose. Pessoas com mais de 60 anos praticantes de atividade física regular conseguem reduzir em cerca de 50% o risco de desenvolver AVC; e se o tiverem, suas chances de sobreviver serão maiores, bem como sua evolução.
AVC É COISA SÓ DE VELHO?
Após os 50 anos de idade, o risco de AVC, ainda que raro, o AVC pode acometer crianças e jovens. Nos jovens dobra a cada década, independentemente dos demais fatores de risco. Nos jovens, uma causa frequente do AVC é a dissecção (rasgo) da artéria, de causa espontânea ou induzida por traumas em esportes, acidentes etc.
QUANDO SUSPEITAR DE UM AVC
Se alguém apresentar, de forma repentina, perda de função de uma parte do corpo, como fraqueza de um ou mais membros ou de um dos lados da face, ou perda súbita da capacidade de se comunicar ou de parte da visão, isto pode ser devido a um AVC. A vítima precisa ser conduzida, imediatamente, a um serviço médico de emergência. Lembre-se: não ofereça água ou alimentos à vítima e não perca tempo (acione o SAMU – 192); tempo é cérebro!
NO SERVIÇO MÉDICO DE URGÊNCIA
A tomografia de crânio deverá ser feita em caráter de urgência para definir se é um AVC, e quando comprovado, se ele é isquêmico ou hemorrágico. Não sendo possível, por motivos clínicos, nenhum dos tratamentos de recanalização (desentupimento) arterial, ainda assim é importante que o paciente com AVC agudo seja hospitalizado.
REABILITAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Há pacientes que melhoram a intensidade das sequelas ainda no hospital. No entanto, infelizmente, a maioria requer o trabalho dedicado de uma equipe de reabilitação multiprofissional com fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia na tentativa de recuperar a função da área cerebral comprometida pelo AVC. Esse processo requer tempo, paciência, dedicação e constância. Não só do paciente, mas dos cuidadores e familiares.
IMPACTO SOCIAL
Ter um AVC é um evento marcante, de alto impacto pessoal, social e previdenciário. Haverá uma mudança na vida, podendo significar perda da autonomia, da qualidade de vida e da capacidade produtiva, que impactará na família. Por mais que a Medicina tenha avançado em tecnologias para diagnóstico e tratamento do AVC, a melhor estratégia ainda é sua prevenção.
FRASE DA SEMANA
“O bom médico trata a doença, o grande médico trata o paciente que tem a doença”
William Osler, médico canadense (1849-1919)
CURIOSIDADE DA SEMANA
O AVC de Louis Pasteur (1822-1895)
Após o falecimento de seu pai e de duas de suas filhas, Pasteur teve um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, no dia 19 de outubro de 1868, que ocasionou uma hemiplegia (paralisia de um lado do corpo), a qual lhe prejudicou a fala, a marcha e a destreza manual. Apesar dessas dificuldades, Pasteur construiu, em 1871, um novo laboratório para suas pesquisas sobre doenças infecciosas, onde continuou com sua produção científica e em 1888, inaugurou o Instituto Pasteur.
*Flávio Antonio Quilici, médico e escritor, mantém com a filha Lisandra M Quilici, coluna semanal no Correio Popular – Campinas, aqui reproduzida. Ele ocupa a cadeira 04 da Academia Cristã de Letras – ACL