São muitas no Brasil as avaliações de escolaridade, que vão da Prova Brasil às da OCDE, também conhecidas como Pisa. E a cada resultado divulgado pela imprensa, um forte desaponto toma conta do leitor.
De ano para ano, os números assustam como se as escolas fossem carros, que só dispõem da marcha-ré, como mecanismo de sua mobilidade. Ainda recentemente, a mídia divulgou os dados referentes à ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização), que revela os resultados obtidos pelos estudantes da terceira série da rede pública de escolas primárias do Brasil. E o que se viu lá? Viu-se que 54% dos alunos do 3º ano apresentaram rendimentos escolares em Matemática e Português incompatíveis com aquilo que os examinadores consideram como o mínimo aceitável em alunos matriculados nessa série do ensino fundamental. Ora, a terceira série é considerada a série de corte na fita da escolaridade fundamental, eis que se levar em conta que, nela, a alfabetização deverá estar concluída e a criança pode avançar e aprofundar conhecimentos mais amplos e necessários. Mas, na verdade, não é isso que acontece, e a partir dos resultados revelados pela ANA, o aluno brasileiro com o retardo que revela em seu aproveitamento escolar, deve demorar-se perigosamente em sua capacidade de fazer somas e divisões aritméticas e de ler sem compreender nada do texto facílimo que lhe é posto ante os olhos.
Afinal, alfabetizar alunos não pode ser tido como algo tão difícil assim, eis que não poucas crianças já foram, no passado, alfabetizadas com sucesso pelas próprias mães. Depois, veio a era das cartilhas e a metodologia invadiu o ensino primário, possibilitando a alfabetização das multidões de crianças ainda no seu primeiro ano de escolaridade. Daí sobreveio à fase ideológica desse aprendizado, com as correntes diversas se digladiando sobre a natureza e o estruturalismo da metodologia do ato de alfabetizar crianças. Com isso, esqueceram-se as faculdades de educação, de que, no fundo, no fundo, o problema não era tão complexo, quanto parecia, e enquanto os mestres terçavam armas quanto à natureza filosófica da alfabetização e do letramento, as crianças iam atrasando a sua capacitação em escrita, leitura e cálculo. O que se fazia no decorrer de um ano letivo, já não se faz mais sequer em três, como vem mostrando a ANA.
É preciso abandonar essas polêmicas inúteis, que trazem confusão para os mestres e prejuízo para os que se alfabetizam. Na minha opinião, de pouco valem as guerras ideológicas entre os professores. O essencial é alfabetizar logo a criançada, não importando o método a seguir, desde que proficiente. Com cartilha ou sem ela, esse processo só terá razão de ser quando o professor, independentemente dos instrumentos de que disponha, mas sempre no primeiro ano de ensino, faça a garotada ler, escrever e contar com eficiência e saber. Porque sem uma alfabetização de sucesso não se pode almejar progresso cultural nenhum da população.
Paulo Nathanael Pereira de Souza. Doutor em Educação.