Dentro desta série de artigos que preparamos para o portal da nossa querida Academia Cristã de Letras- ACL, em comemoração aos 100 anos do rádio no Brasil, contamos que a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a mais ouvida do país, levava ao ar programas de auditório que eternizou vozes de cantores e cantoras que hoje fazem parte da história da Música Popular Brasileira. Houve também o concurso “Rainha do Rádio” que projetou, entre outros nomes, cantoras como Marlene, Emilinha Borba e Ângela Maria, escolhidas por um concurso organizado pela “Revista do Rádio”. pelo gosto popular. São Paulo também teve suas rainhas que, entretanto, terminaram suas vidas no mais completo anonimato, exceção talvez de Isaura Garcia, mulher de belo rosto e encantadora sensibilidade.
Para a apresentação de programas de auditório no rádio de São Paulo, foi preciso trazer do Rio de Janeiro um especialista no assunto, o locutor César Ladeira, que deixou a Rádio Nacional, contratado por Paulo Machado de Carvalho, para dirigir a Record, uma emissora da capital paulista. De início houve muito trabalho, pois foi necessário criar um elenco próprio, visto que ninguém do meio musical a deixar o Rio para trabalhar em São Paulo.
Essa procura fez surgir cantoras de sucesso regional e a principal delas foi Agripina Duarte, cujo rosto aparece na foto acima. Isto possibilitou a formação também, de um público cativo que passou a lotar auditórios, comprar discos e revistas. Outras intérpretes de destaque nos auditórios paulistanos foram Neide Fraga, Cida Tibiriça e Sonia Carvalho, entre outras. Nenhuma dessa vozes sobreviveu ao tempo, praticamente todas morreram esquecidas, exceto talvez, Isaurinha Garcia.
A cidade de São Paulo, quem sabe, pela constante pressa de progredir, se esqueceu de preservar até mesmo os registros sonoros desta época, porque nenhum desses programas de auditório que iam ao ar ao vivo, foi gravado e disponibilizado em arquivo. Quem resgatou os nomes e a trajetória dessas cantoras, foi Thais Matarazzo, jornalista e pesquisadora musical em seu livro “A Dinastia do Rádio Paulista”, escrito em parceria com o historiador Valdir Comegno, publicado em 2013.
Em 1935, Agripina se tornou a primeira Rainha do Rádio em São Paulo. “Seu salário de 300 mil réis, chegou a ser o maior entre os funcionários da Rádio Record”, revela a autora em sua obra. Um artigo postado em 2020, no “Guia dos Curiosos”, por Marcelo Duarte, sobrinho-neto de Agripina, dá conta que ela se iniciou no rádio aos 12 anos, cantando em programas infantis. “Aos 16, já fazia parte do cast da Rádio Record e no auge da fama, se casou com Raul Gama Duarte, grande nome do meio artístico e um dos pioneiros da televisão no Brasil. Dessa união nasceu a filha Maria Cristina Gama Duarte, que se tornou jornalista e dirigiu a revista ‘Cláudia’”.
Marcelo Duarte, acrescenta em seu texto, que o casamento pode ter influenciado sua tia-avó, a recusar uma proposta para integrar o quadro de cantores da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Agripina, aos poucos, foi abandonando a carreira e essa decisão abriu espaço para que Isaurinha Garcia tomasse o posto de “Rainha do Rádio de São Paulo”, no ano de 1953.
Thais Matarazzo, em seu livro, traz ainda outros nomes de cantoras da Pauliceia, como Elza Laranjeira, Esterzinha de Souza, Triana Romero, Hebe Camargo e Lolita Rodrigues. Outro destaque foi Juanita Cavalcanti, também cantora e rainha, escolhida pela Rádio Gazeta, em 1957. Todas elas brilharam, mas tiveram curto reinado.
Fontes: MATARAZZO, Thais/COMEGNO, Valdir/ A Dinastia do Rádio Paulista, ABR Editora/São Paulo/ 2013/
DUARTE, Marcelo/ Portal Guia dos Curiosos/Agripina Duarte: A rainha do rádio paulista que nunca ouvi cantar; 18 de junho de 2020/
https://www.guiadoscuriosos.com.br/blog/historia-2/agripina-duarte-a-rainha-do-radio-paulista-que-nunca-ouvi-cantar/
Geraldo Nunes, jornalista e escritor, ocupa a cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL