Prefácio III
1 – Doutor Helio Begliomini é um desses confrades ilustres que integram a Academia Cristã de Letras, não apenas como escritor de sucesso, mas também como alguém que, perdido de amor pela causa abraçada, presta à instituição serviços inestimáveis, como é o caso da organização dessa História da ACL, que lhe deve ter dado muito trabalho, mas que nos vai dar imensas alegrias.
Nas pesquisas que empreendeu para garimpar documentos, textos, fotos e o que mais seja de importância para o seu propósito de criar uma obra de referência sobre a academia – suas origens, propósitos, valores de embasamento, estrutura organizacional, personalidades associadas, dirigentes, etc., deve ter sofrido muito, eis que se vive no Brasil uma cultura antimemória, em que pouco se guarda sobre realizações havidas, e quando eventualmente se o faz, é sempre com aquele empirismo anárquico, sem as luzes da ciência da arquivística, uma prática, aliás, conducente mais à perda, do que à preservação catalogada das informações. Haja vista o tormento dos historiadores que, à míngua de documentos essenciais da historiografia pátria, têm que recorrer, de preferência, às fontes secundárias – e por isso mesmo precárias – dos textos daqueles que, documentalmente ou fantasiosamente, já escreveram sobre os fatos objeto de análise. No caso presente, prevaleceram as fontes primárias ainda que reduzidas, por engenho e arte do dr. Helio Begliomini e sua incansável disposição de chegar ao fim de seus projetos.
2 – Com este seu “Tributo aos 40 anos da ACL” construiu ele um armorial, que documenta, exalta e confere nobreza a esta Academia, que honra São Paulo, mercê do qualificado quadro de escritores que abriga. Chega em boa hora o livro do dr. Helio eis que, ter história, na vida das instituições, é como ser batizado, na vida de um cristão, quem não a tem ou não o é nunca será devidamente respeitado. No meu modo de ver, instituições sem passado jamais alcançam a fidalguia.
Bem haja o Autor desta obra, por sua oportuna iniciativa, que se vem somar a uma rica e qualificada bibliografia, que, a partir sempre de um tema ligado à medicina – médico ilustre que é o escritor – alcança territórios outros do espectro cultural, sempre referenciados por suas preocupações científicas, éticas e humanísticas. É o que ocorre com a biografia que fez do também médico Juscelino Kubitscheck ou com este verdadeiro tratado da bioética intitulado “Urologia, Vida e Ética”, a mais recente das suas produções. Isso sem falar de suas crônicas e ensaios, onde se avalia a extensa e profunda interdisciplinaridade em que se fundamenta sua admirável formação cultural (Contraponto, Alvíssaras, Mistura Fina, Pelo Avesso, entre outros livros de marcante sucesso).
Saúdo, pois, o aparecimento deste “Tributo” ao quadragésimo aniversário da Academia Cristã de Letras, como uma rara contribuição à vida e à exaltação do nosso sodalício, que, de ano a ano, vem firmando sua benéfica presença no panorama intelectual de São Paulo e do Brasil.
Paulo Nathanael Pereira de Souza