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  • Fonte: Luiz Eduardo Pesce de Arruda

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A Anhanguera, para mim, não é uma estrada
É o fio, que me conduz seguro
A cruzar os caminhos, ora luminosos, ora tortuosos,
Pelos labirintos, enfim, a que chamamos vida.

A princípio ela foi encantamento
As viagens, quando eu me deitava a noite
No banco de trás do carro
Ou no capô traseiro do ônibus
Olhando o céu escuro e as estrelas cintilantes
Tentando ver estrelas cadentes
E sonhando em viajar pelo espaço

Depois, foi o caminho que embalou meu cansaço,
Na exaustão de viajar muito cedo e dormir muito tarde,
Para fazer cursinho em outra cidade, e estudar,
Em busca do sonho profissional

Depois ela foi sonho quando,
Chorando à noite, abraçado pela escura solidão,
Aluno de uma escola exigente, cheia de pessoas desconhecidas,
Pensei em jogar tudo para o alto, passar pelo portão,
Correr pela avenida adormecida,
Onde as luzes dos semáforos se alternavam,
E disparar pelos caminhos da Anhanguera,
Até o colo, tão distante, de minha mãe

Depois, já ambientado à nova vida,
Eu a percorri cada vez menos,
Mas ela continuava me acolhendo sem reclamar,
Para partilhar ansioso, meus sucessos, rever as pessoas queridas,
Ir ao baile de gala no Clube, rever meus amigos
Que também seguiram seus próprios caminhos

O tempo passou e, com o tempo
A Anhanguera tornou-se caminho de submissão à nossa pequeneza humana
Quando tentava me consolar, afagando-me com suas paisagens deslumbrantes
Antes de chegar à minha terra,
Para confortar meus doentes,
Ou para me despedir dos meus pais, dos meus familiares,
Dos meus amigos – que, contra minha vontade, partiram antes de mim

Hoje a Anhanguera é mais um caminho sereno, de memoria
Mas que ainda faz disparar meu coração quando, do alto da colina, vejo a minha cidade adormecida
Nas noites frias de julho
Iluminada pela luz amarela da imensa lua,
Com seu olor familiar de café torrado, que me leva de volta à infância

Vai chegar o dia em que você, Anhanguera, será meu derradeiro caminho
Para o derradeiro reencontro com meu chão natal
E aí, somente memórias recíprocas restarão
Memórias de uma estrada chamada Anhanguera
Memórias de uma vida, que a percorreu
Em tempos de sonho e de tormenta – e em tempo de felicidade.
Pode um homem amar uma estrada?
Não creio
mas pode amar, sim, o destino,
Ao qual aquele caminho o conduziu