Selva de Pedra, sim senhor!
Assim é, como, na verdade
E bem apropriadamente,
Chamam esta cidade.
Contrastes marcantes
Se acentuam mais e mais,
Em função de identidades
Quase sempre desiguais.
É uma cidade gigantesca,
Espaçosa aos bem-nascidos.
E a maioria comprimida
Em seus becos reduzidos.
Nela vivem milhões,
Num frenético vai e vem.
Uns seguem destino certo,
Outros... a brisa os mantêm.
Lugar onde as pessoas
Buscam o futuro na raça.
Amam, riem e se divertem.
Sofrem e choram desgraças.
Este é um lugar único.
Quem chega logo adota.
É gente que, acreditando,
Luta vitórias e derrotas.
Há ideais romanescos
E belezas que arrebatam.
Há gente que reza o terço,
E a sanha dos que matam.
Onde o gesto rotineiro,
No contraste dos acasos,
Tanto é certo quanto incerto.
E, se político, é de descaso.
E, em meio à roda viva
Da multidão em romaria,
Rostos, em movimento,
Desfilam em harmonia.
Vê-se na mesma calçada,
O policial e o bicheiro,
O humilde e o soberbo,
O lobo e o cordeiro.
Entre rusgas e abraços,
Gritos de gols e desatinos...
Santistas e palmeirenses,
Corintianos e sãopaulinos.
Babilônia controversa.
Contrastes de etnias.
Negro, branco, amarelo.
Melting pot sem fobias.
No bom ar condicionado,
Executivos engravatados.
E catadores de papel,
A céu-aberto... esfarrapados!
Tem atletas expoentes
Correndo no Ibirapuera,
E hordas de drogados
Na mais vil atmosfera.
E tem aqueles que fazem,
E os que mandam fazer.
Qual o nefasto cafetão,
E as “profissionais do prazer”.
Oscar Freire – chiquíssima -,
Bem ali... nos Jardins.
E a Vinte e Cinco de Março...
Um camelódromo sem fim.
Bangalôs e arranha-céus
Dos ricos de vida bela.
E desvios incoerentes...
De mansões nas favelas.
Lindo céu de brigadeiro...
O Shopping Iguatemi.
Jardim Romano inundado,
Se afogando logo ali.
E, margeando o Tietê
- Um esgoto a céu aberto -,
O belo Parque Ecológico
Deixa todos boquiabertos.
Há o Morro dos Ingleses
E a Baixada do Glicério.
Não há o que se dizer...
Compará-los é impropério.
O luxuoso Morumbi,
E o temido Capão Redondo.
Se um é chique e elegante...
Outro é cacho de marimbondos.
Regiões: norte e sul.
Também: leste e oeste.
Contrastes de sol e chuva...
Poluição e azul celeste.
Glicínias e tumbergias,
Rosas e margaridas,
Em cores equilibradas
Embelezam nossas vidas.
Esta cidade, sem dúvida,
Harmoniza os desiguais.
Contrários vão se juntando
Qual um banco de corais.
Cidade que tem por lema
- E com orgulho - a liberdade.
Tem, no direito de ir e vir
Seu predicado de verdade.
De amor, a sua magia
- Qual flor, de mel salpicada -
É encanto aos colibris
Que sonham nova morada.
Por isso mesmo é que eu digo,
E reafirmo aqui nesta hora,
São Paulo é berço de todos...
De todos é mãe generosa.
Reinaldo Bressani - 11-99582-8307 - Cadeira nº 15 da ACL