Não mais os olhos tristonhos,
Tão vivos, cheios de sonhos,
Fitarão a bela lua ...
Não mais verei o semblante,
Que muito meigo e distante,
Alegravam a minha rua...
Era um pequeno rosado,
Que muita vez desolado,
Na minha porta encontrei ...
Brincando sempre risonho,
Tinha um ar puro e tristonho,
Que nunca, jamais verei...
Era a querida criança
De todos da vizinhança,
Uma constante alegria ...
Morava mui pobremente,
Com a mãezinha doente,
Numa casa velha e fria...
No seu ofício levava
Recados, compras e achava
Que devia fazer mais...
A todos ele servia,
E quando, livre, podia
Ir vender muitos jornais...
Muita vez a criançada,
Que brincava na calçada,
Tinha nele o seu ardor...
Ele era belo e faceiro,
Tinha olhar muito brejeiro,
Um sorriso encantador...
Mas, todavia, o pequeno,
Que parecia sereno,
Sempre, sempre, saltitante,
Tinha um ar de sofrimento,
Que vinha a todo momento,
Empanar o seu semblante...
Muita vez, quando vendia
Os jornais à freguesia
Mais parecia chorar...
Uma lágrima atrevida,
Dos belos olhos caída,
Eu vi muita vez rolar...
Perguntava o que sentia,
E ele sorrindo dizia:
-Não é nada não, senhor...
E logo depois gritando,
Ele corria cantando,
E chamava o comprador...
Voltando um dia ao meu lar,
Pareceu-me que a vagar,
Flutuava o sofrimento...
O meu triste coração,
Só respirou solidão,
Naquele triste momento...
A casinha velha e fria,
Pareceu-me tão vazia
E a rua toda gemeu...
O céu, então estrelado,
Contou-me mui desolado?
“O bom menino morreu”...
A rua que era radiosa,
Cheia de vida e ditosa,
Só tristeza agora encerra...
Lá no céu, naquele dia,
Houve festa e alegria,
Mas sofrimento na terra...
Não mais os olhos tristonhos,
Tão vivos e cheios de sonhos,
Fitarão a bela lua...
Não mais verei o semblante,
Que muito meigo e distante,
Alegrava a minha rua! ...
Poema de Sebastião Luiz Amorim - Cadeira 29 da Academia Cristã de Letras - (Fls. 66/68 da Obra “Quaterno Poesias” – 1998 - Editora Oliveira Mendes)