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  • Fonte: Ives Gandra da Silva Martins

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Eu sempre fui um menino,
Que não queria crescer,
Pensando ser meu destino
Mais sonhar do que viver.

II
Desde criança escrevia
Os sonhos de meu sonhar,
Pois tinha na poesia,
Caminhos de lua par.

III 
Navegava entre os escolhos
Do tempo vencendo os ares,
Procurando belos olhos,
Pelas águas dos meus mares.

IV
Era criança, sonhava
Ser navegante do espaço
E tinha minh’alma escrava
Nas muralhas de meu Paço.

V
Quis logo ser cavaleiro
Com minha espada de pau,
Queria ser sinaleiro
Do combate contra o mal.

VI
Imaginava os castelos
Com suas lindas donzelas,
Escudos, grandes martelos
Com as cores de aquarelas.

VII
Nos sonhos, sempre lutava
Contra o mal e pelo bem
E se do vulcão a lava
Caía, pulava além.

VIII
Havia sempre dragões,
Cavaleiros medievais
E as ferrugens dos portões
Dos tempos dos samurais.

IX
Eu não queria crescer,
Pois vivia de aventuras,
Que estavam sempre a nascer
Pelas batalhas futuras.

X
Também era navegante
Cruzando bravios mares,
Contra filhos do Levante,
Pelas noites estelares.

XI
Cresceu, um dia, o menino
Apesar de não querer,
Sem traumas, sem desatino,
Buscando ser e não ter.

XII
Estudou com seriedade
Para na vida lutar,
Mas sempre teve saudade
Dos seus tempos de sonhar.

XIII
O trabalho muito cedo
Começou, sendo garoto,
Versejar foi seu enredo,
Malgrado o talento roto.

XIV
Conheceu muitas meninas
Nos bons tempos de respeito,
Seguiram elas as sinas
De pudor, sem ter defeito.

XV
Combateu com bons amigos,
Viveu de muita esperança
Quis bem aos seus inimigos,
Em tormenta ou na bonança.

XVI
Visitar outros países
Muito jovem decidiu,
Feliz, como os mais felizes,
Deixou, portanto, o Brasil.

XVII
Na Velha Europa aportou,
Estudou e foi boêmio,
Assistiu a muito show,
Não teve cabeça a prêmio.

XVIII
Nada fez de diferente
Alguma pouca conquista,
Muito estudo pela frente,
Nada escondendo da vista.

XIX
Um dia voltou pra casa,
Cruzando mares de barco,
Seus sonhos perderam asa,
Fechou da vida seu arco.

XX
E foi estudar Direito,
Em antiga Faculdade,
Onde o aluno mais perfeito
Era vate de verdade.

XXI
Lá voltou a ser poeta
E ter sonhos juvenis
Levou a vida discreta
Com atitudes viris.

XXII
O direito de defesa
Foi sempre sua paixão,
Escrevia sobre a mesa
Esboços de petição.

XXIII
Decidiu advogar
Ao concluir seu estudo,
Por espada o seu falar
E sendo o pensar, escudo.

XXIV
Mas ao voltar conhecera
A mulher que imaginara,
Desde que, na vez primeira,
Com a perfeição sonhara.

XXV
Eram ainda estudantes,
Quando se uniram na vida,
E como dois navegantes
Enfrentaram dura lida.

XXVI
Tiveram filhos e netos,
Mas sempre muito se amaram,
Seguiram caminhos retos,
Que na existência se aclaram.

XXVII
Ficaram velhos na idade,
Mas jovens de coração,
Amaram Deus de verdade,
Nunca Lhe dizendo não.

XXVIII
E perceberam os dois,
Que os versos sempre de amor,
Compostos davam depois
Ao matrimônio valor.

XXIX
Fizeram daquela história,
Que teceram por encanto,
Com derrotas e vitória
O tema para este canto.

XXX
Daquele simples menino,
Que não queria crescer,
Mas, por força do destino,
Pode seu sonho viver.

SP. 16 e 17/07/2014.