Enquanto uma parte do mundo dorme
a rua embaralha suas cartas,
o bêbado descumpre promessas,
orações confortam o espírito,
almas conversam entre si.
O poeta num pacto secreto
descreve o cotidiano.
Páginas manchadas de vinho.
Folhas rasgadas sem par.
Na balança entre o sim e o não,
impera a ilusão do talvez.
Talvez o amor sempre atento
perdoe os constantes tropeços
de quem caminha sem rumo
e vai pra lugar algum.
Talvez, assim, a esperança,
mesclando-se à fé que aquece,
risonha também sobreviva,
vencendo a escuridão.
Mas quando a gaiola se abre
o pássaro receia voar.
Uma parte do mundo dorme
pra não ver a outra parte chorar.