Entrou na academia com um sonho ilógico
Na posse discursou com seu timbre atávico
Pintando as mensagens no linguajar lírico
Brindou os acadêmicos com sorriso sádico.
Escolhendo sua cadeira com o gesto típico
Filetes de sapiência no velho viez socrático!
Não tardou a exibir seus projetos sórdidos
Sua paixão secreta cheia de desejos cínicos
Por si mesmo eleito o prior dos catedráticos
A acalentar na alma seus anseios mórbidos
Clamava ser Apolo dos deuses emblemáticos
E para as acadêmicas pedia favores íntimos.
O líder dos seus pares o arguiu bem próximo
Segredou conselhos em frases diplomáticas
E na elegia do bem teceu loas ao escrúpulo!
Uma tentativa vã de corrigí-lo por metáforas
Mas fracasssou na lógica, pois seu senso lívido
Esbarrou na teimosia do confrade esdrúxulo.
Restou a última oitiva junto ao comitê de ética
E ele perfilhou poemas em versos sem métrica
Na volúpia insensível refluiu do campo lúcido
Com argumentos insípidos provou ser estúpido
Reviveu da era pretérita a mais prosáica fábula
O débil libelo defensivo puniu o tímido rábula.
Na assembléia de expulsão bradando enfático
Distilou crítica a Pitágoras, o sábio matemático.
Inútil sua prédica expendida em tom fleumático
Sem resquício, o nobre sodalício foi pragmático.
Eliminou da academia o elemento pornográfico.
Mas ele acabou no Senado agente burocrático!
Lázaro Piunti