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Raquel Naveira

 Raquel Naveira cronicas b2714

Viriato (181 a. C. - 139 a. C.) foi um dos líderes da tribo lusitana que confrontou os romanos na Península Ibérica. A etimologia do nome Viriato vem de “viri” e “athus”. “Viri” significa “homem”, raiz relacionada com força e virilidade.

Pouco se conhece sobre a vida de Viriato. A única referência à localização de sua tribo foi feita pelo historiador grego Diodoro da Sicília, que afirma que ele era das tribos lusitanas que habitavam do lado do oceano. Escreveu Diodoro: “Enquanto ele comandava, ele foi mais amado do que alguma vez alguém foi antes dele.” Também o poeta Luís Vaz de Camões (1524- ou 1580) dedicou versos a Viriato, no seu canto VIII dos Lusíadas:

Este que vês, pastor já foi de gado
Viriato sabemos que se chama
Destro na lança mais que no cajado
Injuriada tem de Roma a fama,
Vencedor invencível, afamado.

Viriato pertencia à classe dos guerreiros. O historiador Tito Lívio o descreve como um pastor que se tornou caçador e depois soldado. Na tradição romana, Viriato é comparado ao pastor mais ilustre de Roma, que se tornou rei, Rômulo. A ideologia do rei-pastor está presente na base de várias culturas.

Era um homem que seguia os princípios da honestidade e da justiça, fiel aos tratados e alianças que fazia. Defendeu ferozmente as suas montanhas dos romanos. Em 147 a. C. opôs-se à rendição dos lusitanos a Caio Vetílio. Derrotou os romanos no desfiladeiro de Ronda. Após algumas derrotas, Viriato consegue se recuperar e vence novamente os romanos. O imponente Senado romano declara guerra aos lusitanos. Roma envia o general Servílio Cipião. Viriato mantém a superioridade militar e força-o a pedir paz. Viriato envia então três emissários de sua confiança: Audas, Ditalco e Minuros. Cipião suborna os companheiros de Viriato, que o assassinaram enquanto ele dormia. Pura traição. Um desfecho trágico para Viriato e os lusitanos e vergonhoso para Roma. Sem a forte resistência de Viriato, Decius Junius Brutus marchou para o nordeste da península e subjugou toda a Galícia.

O nome “Viriato” me fez recordar do escritor, jornalista e político Viriato Corrêa (1884-1967), que escreveu o célebre romance infantojuvenil, Cazuza. Outro dia, vendo a singela capa do livro com o desenho de um menino de macacão vermelho, sentado sobre um tronco de árvore cortada, emocionei-me. Um livro singelo, autobiográfico, que relata as amargas experiências de um garoto em escolas do Maranhão. O processo de amadurecimento de uma criança fascinada pelos estudos. O drama da educação que ainda se utilizava de castigos físicos e humilhações para conseguir disciplina. Lições valiosas de vida, lirismo, momentos tristes e felizes, costumes locais, mazelas sociais. Viajei no tempo. Que leitora fui quando criança.

Perguntei ao meu amigo, Lucas Viriato de Medeiros, escritor carioca, se ele conhecia a história do herói Viriato, uma verdadeira lenda. Ele me respondeu que sim, mas que gostaria que eu lhe contasse. Aceitei o desafio:

Viriato,
Rei e pastor da tribo lusitana
No confronto com Roma,
Poderosa e insana.

Viriato,
Rei que empunha a lança,
Celeste mandato
De quem busca a paz,
Justiça
E conhecimento;
Herói,
Santo,
Pai da nação lusa,
Mobiliza energias
Nas batalhas do espírito.

Viriato,
Pastor que segura o cajado,
Apascenta o rebanho das estrelas,
Pronto a morrer por suas ovelhas;
Sábio,
Nômade,
Observa os astros,
Distingue os ruídos,
Escuta a chegada dos lobos,
Emissários de seu assassinato.

Viriato,
Rei e pastor,
Comandante amado,
Cantado por Camões,
Habitante do oceano,
Senhor do exército;
O teu retrato
De homem viril e nobre
Está impresso
No meu sangue português,
Na minha rebeldia ancestral,
No meu canto exato.