Lázaro Piunti
Nem sempre o dia é do caçador!
O primo do Primo do meu irmão Arlindo escapou por pouco da armadilha preparada pelo pai de uma de suas namoradas. Foi por um fio.
O sacana apaixonara-se por uma jovem, filha única de próspero plantador de cebolas e tomates de Tatuí. Era uma garota de exuberante beleza, premiada com a formosura das ninfas. Mas o pai era das antigas! Casaria com a sua filha o homem que provasse alto domínio, resistente às tentações e com compromisso de absoluta fidelidade à futura esposa.
Estas exigências não combinavam com a personalidade do namorado. Mas a paixão do primo do Primo do meu irmão Arlindo era grande e ele já não suportava a situação.
Obter um beijo da amada era um custo. A moça, virgem e de aparência ingênua, o perturbava. E seguia o namoro de acordo com as regras do futuro sogro!
Sogro? Esse era o maior temor do malandro. Nunca se enroscara a uma mulher e não seria desta vez que cairia no alçapão. Casamento não era com ele. Oito meses de namoro e nada.
Então o pai da moça calculou ser chegada a hora de testar a fidelidade do futuro genro e apertá-lo para o casório. Se passasse no teste! Orientou a filha com o autoritarismo próprio de pai conservador determinando como deveria agir no final de semana, quando o rapaz viesse para o namoro no portão.
No sábado o primo chegou e ao tocar a campainha da mansão, se surpreendeu com o convite da moça, pedindo que ele entrasse. Na sala de estar vazia estranhou as ausências dos pais da namorada. Então ela o chamou. Erguendo os olhos ele ficou paralisado. Do alto da escada que levava ao andar superior da casa, ela ria para ele.
Vaporosa! Vestida com um véu que mal encobria as partes. Insinuante, ela fez sinal para ele subir a escadaria em direção ao seu quarto. O moço, diante de tanta beleza, permaneceu estático. A cena, inesperada, o transformara momentaneamente em estátua! Apenas uma protuberância se avolumava na região sul do seu corpo másculo. Ela insistiu que subisse, estavam sozinhos!...
Ele, porém, saiu correndo porta afora em direção ao seu carro já na rua. Apalpou os bolsos e não encontrou as chaves, tão nervoso estava. Nesse instante não se sabe de onde surgiram o pai e a mãe da jovem e, sem cerimônia, o foram cobrindo de abraços e beijos.
Ele passara no teste!
Dominara-se diante da cena sensual montada pelo carcamano! Pronto! Podia casar com ela. Ao compreender, enfim, a trama, o primo do Primo conseguiu abrir a porta do carro, engatou uma ré e se mandou de Tatuí.
(Na verdade ele saíra voando da casa para pegar no porta-luvas a cartela de preservativos)