Geraldo Nunes
Salomão Ésper viveu 95 anos bem vividos com muita ternura, amizade e amor por todos ao seu redor.
O conheci como ouvinte ainda nos meus tempos de menino e quando estudante na faculdade, passei a citá-lo como referência ao bom jornalismo.
Depois quis o destino fazer de nós colegas de trabalho na Rádio Bandeirantes, ele muito acima de mim já na condição de diretor da emissora, mas sem nenhuma empáfia tratando a todos com igualdade e carinho.
Salomão Esper e Geraldo Nunes
Moderado nos comentários e tido por muitos como conservador, Salomão para mim fazia o contraponto das reflexões políticas, por isso ao ligar o rádio, sempre buscava ouvi-lo.
No dia a dia, passava aos mais jovens detalhes importantes para o aprimoramento do nosso trabalho.
Preocupado com a saúde citava aos ouvintes os nomes dos médicos aos quais consultava e, consigo, guardava em uma gaveta de sua sala, vários tipos de comprimidos.
Azia ou dor de cabeça? Bastava procurar o Salomão que dispunha sempre de um sal de frutas ou um analgésico para nos ajudar.
Durante os bate papos recitava de improviso poemas de Olavo Bilac, Carlos Drumond e outros tantos poetas.
Fazia isso também diante dos microfones de acordo com os assuntos que estivessem sendo tratados.
Respeitoso com a audiência, lia com atenção as mensagens enviadas ao programa na "Hora do Café", dentro do Jornal Gente da Bandeirantes.
Antes da emissora do Morumbi, passou pelas rádios América, Cruzeiro do Sul, Piratininga e comandou programas nas TVs Cultura e Bandeirantes.
Na foto acima o vemos moço na Rádio Cruzeiro do Sul ao lado da apresentadora Elizabeth Darcy, mãe do narrador Sílvio Luiz.
Nascido em Santa Rita do Passa Quatro–SP, mudou-se para a capital paulista com a finalidade de aprimorar seus estudos e formou-se em direito pela Faculdade do Largo São Francisco.
Foi nesses tempos de estudante que prestou concurso na Rádio Cruzeiro do Sul que deseja contratar dois locutores, acabou entre os selecionados junto com Cid Moreira.
Na Rádio América conheceu o então iniciante repórter esportivo José Paulo de Andrade, mas a parceria entre os dois se iniciaria mesmo na Rádio Bandeirantes para a continuidade de um programa de comentários sobre os assuntos do cotidiano.
Vicente Leporace, tradicional apresentador de "O Trabuco", faleceu em 1978 e para substituí-lo foi necessária a colocação de três jornalistas.
Salomão Ésper que normalmente substituía Leporace em suas férias foi o primeiro escolhido, depois José Paulo de Andrade e Joelmir Beting.
Surgia assim o Jornal da Bandeirantes Gente para consagrar o horário e por isso segue no ar até hoje com novos apresentadores.
Quem conheceu Salomão Ésper com certeza teve o privilégio de ver diante de si um ser humano notável, amigo e sincero com todos.
O melhor, é que estava sempre de bom humor, tanto que em um dos almoços promovidos pela nossa coirmã, Academia Paulista de Jornalismo - APJ, Salomão Ésper soltou essa:
"Acontecem coisas boas em todas as fases da vida, estou adorando a velhice, pena que dura pouco"!
Salomão agora está no céu e para nós aqui na Terra, fica o exemplo e a saudade.
De agora em diante os almoços da APJ nunca mais serão os mesmos.
Geraldo Nunes, titular da cadeira 27 da ACL, é jornalista pesquisador da história, escritor de livros institucionais, consultor em comunicação e defensor da inclusão e acessibilidade.