Frances de Azevedo
Minha Confreira Raquel Maria Carvalho Naveira, Cadeira 7, Patrono Castro Alves, da Academia Cristã de Letras, recentemente, escreveu a crônica Sinos, onde, inicia assim: Moro perto de uma igreja. Todos os dias repicam os sinos.
Até então, não me tinha dado conta de que também moro bem próximo do Convento e Igreja de Santa Tereza (Av. Jabaquara, 244, SP/Capital). Digo isso, pois tenho duas moradas, uma próxima da outra, no bairro de Mirandópolis, na Capital de São Paulo: Rua dos Heliotrópios e Rua das Azaleias.
Neste começo de ano, por circunstâncias que não vêm ao caso mencionar, quando estava na segunda morada, no domingo, (07/01/2024), ao ouvir o sino do convento tangendo, às 8 horas, meu coração deu um salto de alegria; logo, me lembrei de sua crônica, fazendo jus à minha manifestação sobre esta: doravante, ao ouvir o repicar de um sino eu me lembraria de suas palavras. E foi o que ocorreu.
O badalar teve efeito mágico sobre mim: após o café, criei asas e voei até o Convento! O portão estava aberto: verdadeiro milagre, pois está sempre cerrado! É que a missa havia terminado (As missas são de segunda a sábado, às 7 horas e aos domingos, às 8 horas). Ao adentrar, já fui acolhida pelo agradabilíssimo e bem cuidado jardim, com plantas, flores e árvores: um oásis nesta selva de pedra!
O complexo arquitetônico em si é majestoso: circundado por árvores com densas copas que, aqui, do meu apartamento, não permitem que se vislumbre o retiro das irmãs reclusas; excetuando a torre do campanário que assinala a casa de oração.
A igreja, com vitrais que refletem os raios solares, lembra mais uma capela, porquanto inserida em terreno privado, circundada por altos muros que protegem esse santo retiro. Um desses vitrais, representando o sagrado coração, nas cores vermelha, azul e dourada, expõe a dimensão do amor de Jesus. Há outras salas contiguas, altar, bancos, imagens, móveis...
A construção e o projeto datam de 1946/1948 de Leandro Dupré Construções Ltda., em estilo neocolonial para a Ordem das Carmelitas Descalças. Considerado patrimônio histórico desde 2014, é vedada a construção ao derredor acima de quinze metros. Todavia, infelizmente, tal não vem sendo atendida.
No prédio, ao lado da capela, adornado com arcadas, vislumbra-se riquíssimos azulejos portugueses expondo a vida de Santa Tereza D`Ávila!
Sobre esta há um fato marcante em minha vida porquanto, mamãe que foi noviça, costumava nos relatar histórias sobre santos e uma delas foi sobre Santa Tereza D`Ávila. Um dia, estando eu em viagem pela Espanha, desgarrei-me do grupo e com duas outras viajantes me vi em Ávila diante do túmulo da santa. Foi, então, que as palavras de mamãe aforaram em meu pensamento. Nada é por acaso nesta vida...
Mesmo com o burburinho dos veículos da Avenida Jabaquara, o canto dos pássaros sobressai harmoniosamente nesse jardim onde Nossa Senhora se faz presente numa graciosa gruta.
À esquerda das arcadas, há uma sala com objetos para venda. E à guisa de secretaria, uma mesa com duas cadeiras onde me sentei e conversei com um seminarista por nome Gabriel o qual, para minha agradável surpresa, foi aluno de nosso Confrade Domingos Zamagna (Cadeira 28, Patrono Frei Antonio Manoel de Vilhena)! Fiquei encantada com sua inteligência e educação!
No centro dessa sala, há uma porta que conduz à uma espécie de refeitório para os visitantes, onde, sobre uma grande mesa, é servido café para o qual fui convidada, porém declinei. Despiciendo mencionar que todos os móveis são de madeira nobre, escuros e trabalhados.
Voltando ao badalar dos sinos. Que bem enorme ouvir o som onomatopaico: Blém! Blém! Blém! Musicalidade envolvente, sem precedente, que toma conta da gente!
Sua existência remonta há mais de 4.500 anos (China), quando eram usados para marcar as horas e dar por findo mais um dia de trabalho. Também, no Brasil colonial, bem como, anunciar a chegada de pessoas ilustres, missas, nascimentos e óbitos. Instrumento de comunicação importantíssimo!
Sabe-se que, no budismo, é utilizado para meditação por seus pendores calmantes, variando seu uso conforme a cultura e costume de cada povo.
Na torre das igrejas, servem para: sinalização das horas canônicas (6:00; 9:00; 12:00; 15:00 e 18:00 horas); chamado para missa; eventos importantes; eventos fúnebres... Variados são seu repicar. Cada um com seu significado.
Aprecio seu uso à entrada de residências. Acho bucólico e charmoso.
Quanto à utilização para chamar os criados tenho cá minha opinião que prefiro não expô-la...
A representatividade dos sinos é variada: purificação, proteção, celebração, comunicação, conexão espiritual...
Nos campos são utilizados de diferentes maneiras. O badalar dos sininhos no pescoço de ovelhas, cabras e vacas me atraem, bordando a paisagem de graça e paz. São utilizados para identificação de seu dono e para que sejam encontrados na vastidão dos pastos caso se percam.
Eu desconhecia, mas há o Dia do Sino: 1º de outubro, abrindo a Semana Nacional da Vida!
Conta-se que o sino da antiga Catedral da Sé, conhecido como Sino da Independência, por ter anunciado a chegada de Dom Pedro na cidade de São Paulo, em 1822!
Na poesia, na prosa, o sino se apresenta dando seu toque mágico. Tanto que, Fernando Pessoa o imortalizou em seu poema O Sino de Minha Aldeia.
Também eu, como poeta, não me olvidei desse esplêndido instrumento de percussão e, dentre outros, destaco este:
NOITE FELIZ
Noite feliz
Jesus nasceu
Belo petiz
Que amor nos deu!
Os sinos tocam
Chamando a paz
Todos cantam
E o bem perfaz!
Sim, é Natal
Que nos alegra
Vem afinal
E nos agrega!
(Página 129, da obra Trilogia do Perdão, 2011, Infoartes Editora).
Vou findando por aqui, pois ouço novamente o badalar do sino do Convento de Santa Tereza que me conduz às outras paragens...
Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL