O mundo da poesia é um mundo sensível à beleza, ao lúdico... ao abstrato. Seus elementos são, essencialmente, instigantes em razão do fator criação prodigiosa, que dá forma à imaterialidade dos elementos aflorados da imaginação, como se, a eles fossem propiciadas pinceladas de substâncias cósmicas, surreais.
Condição mística e inata do poeta, pois lhe confere condições libertárias através das quais ele voeja pela essência dos sonhos, deles extraindo o encanto que vai ressoar pelos seus versos. É como se um espírito, talvez um anjo, refletisse ao poeta a natureza abstrata do belo, do extraordinário, ou seja, a própria inspiração como fonte de sua criação. Verdadeiro sopro celestial, condutor de mensagens codificadas que, decifradas pelo artesão dos sonhos e, por ele reveladas artesanalmente após o juntar mágico das letras repletas de
profecias.
E isso, porque poetas são seres que, desde o berço dos tempos, são tidos como portadores de um dom único, concedido por Euterpe – uma das nove musas de Apolo -, patrocinadora da música e da poesia no tempo do reino dos deuses gregos quando a chama poética, pela vez primeira, teria aflorado ao mundo humano. E, exatamente em razão desse elo entre música e poesia, foi que a lira passou a emprestar notas de sonoridade essencial à poesia, fato que deu origem ao termo lirismo, que é quando os versos abarcam o sentimento mais amoroso.
Daí que, voejar pelo mundo da poesia é soltar a alma e se deixar levar por um mundo de sonhos onde a maré libertária se ondeia de sensibilidades e vai desaguar seus encantos nas almas sonhadoras.
Portanto, poesia deve ser facilmente considerada, acima de tudo, como a arte do encantamento com a capacidade latente de revelar feições do oculto, bem como, visões suscitantes às belezas e sentidos que o poeta quer emprestar ao verbo, evocando sonhos que venham a aflorar da alma e, por consequência, disseminar alegrias, prazeres e meditações.
Razão pela qual, o mundo da poesia permite a magia da imersão nos sonhos – mundo em que imaginação, fantasia e criação, libertam-se, dando asas à mente do seu artífice. Isso porque, poesia é nada mais que a eloquência dos sonhos fluídos do espírito excitado do poeta ante os coloridos enigmas do seu imaginário. E é por isso, essencialmente em decorrência disso, que encanta a todos, propiciando enleios tão contundentes.
Reinaldo Bressani - Cadeira nº 15 da ACL