J.B. Oliveira
Quem não se recorda das palavras de orientação, fortalecimento e estímulo de sua mãe?
Letrada ou inculta; de destaque social ou humilde; idosa ou jovem, ela é sempre um repositório de sabedoria e de conhecimentos universais.
Um poema lembra essa realidade:
“Com o maior dos sacrifícios, tu nos livraste dos vícios, da mentira e da vaidade. Como uma sombra, um doce abrigo, teu coração, sempre amigo, foi calma nas tempestades”!
Relatando sua vida, Marcos Pontes, o primeiro astronauta de nosso país, narra essa trajetória, desde sua Bauru, no interior de São Paulo, berço também de outro grande nome de nossa aviação: a lenda viva Ozires Silva.
Conta Marcos Pontes que seu lar era humilde, como tantos outros. Seu pai, um simples servente de serviços gerais e sua mãe, escriturária da Rede Ferroviária Federal. O pequeno Marcos, entretanto, queria ser aviador!
Não faltaram os derrotistas, destruidores de sonhos e pessimistas: “Imagine! Isso é coisa pra filho de rico!” “Desista: você nunca vai conseguir realizar esse sonho!” “Isso é impossível!”
Foi então que, chegando em casa arrasado, sua mãe, uma brava italiana de olhos muito azuis, chamada Zuleica, ao ouvir suas lamuriosas palavras, vociferou – quase profetizando:
– “Você pode ser o que você quiser! Desde que estude, trabalhe, persista e faça mais do que se espera de você!”
Alicerçado nessas palavras, ele encontrou forças para alimentar seus sonhos! Prestou exame de ingresso à Escola Preparatória de Cadetes do Ar, mas foi reprovado! Então, após cursar o colegial em escola civil, prestou novo exame, agora para a Academia da Força Aérea, em Barbacena, obtendo êxito. Era o primeiro passo rumo à concretização de seu sonho!
Mais tarde, já oficial-aviador, decidiu ampliar seu campo de conhecimentos na área. Prestou vestibular para ingresso no concorrido ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica e, aprovado, cursou Engenharia Espacial. Na sequência, faz mestrado e doutorado em Engenharia de Sistemas, nos Estados Unidos.
Com isso, tornou-se simultaneamente piloto e engenheiro de testes, funções até então isoladas! Pilotou aviões da Força Aérea e da Marinha americanas e também da Rússia, na década de 1990. Caminhava, passo a passo, rumo à viabilização de seu sonho máximo: ser astronauta! Entretanto, havia uma barreira então intransponível: a atividade de astronauta não existia em nosso país: só nos Estados Unidos e exclusivamente para cidadãos norte-americanos!
É quando se materializa, na prática, o que reza uma expressão muito conhecida: quando se quer firmemente alguma coisa, o universo conspira a nosso favor! Em 1994, o Brasil cria a Agência Espacial Brasileira e entra na área de Astronáutica, com direito a UMA vaga para astronauta!
Entre cinco candidatos finalistas, Marcos Pontes é classificado. Segue para o Johnson Space Center, no Texas, onde, por fim, faz o curso básico de Astronauta!
Contudo, nessa verdadeira corrida de obstáculos, desponta um novo entrave: o curso teria prosseguimento na Rússia! Dão-lhe apenas seis meses para e preparar e, inclusive, aprender o complexo idioma russo! A essa altura, porém, nada, absolutamente nada mais o detém.
Vence mais essa etapa: conclui o curso, e chega, enfim, o dia do sonhado voo! Avisam-lhe que dentro de oito minutos estará navegando no espaço cósmico...!
Então, dentro da nave, vendo sua luva flutuar no vácuo, lembra das firmes palavras de sua mãe:
“Você pode ser o que você quiser! Desde que estude, trabalhe, persista e faça mais do que se espera de você!”