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De repente, sem aviso, ele, fiel ao chamado divino, foi morar no céu! Paulo de Tarso Liberalesso Filho partiu, no lance fugaz, com a brevidade excludente do adeus! Médico humano, professor solidário, advogado estudioso, saiu de cena sem nos dar a chance do abraço de despedida. E aqui ficou uma legião de órfãos.

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(* 09-11-1973 + 13-06-2022)

A prova visível do tamanho dessa orfandade notou-se na multidão presente ao velório. Na silenciosa oferenda do conforto aos familiares, reuniram-se professores, companheiros da Universidade e dezenas de alunos seus! Do hospital onde ele servia diuturnamente, vieram colegas médicos, equipe de enfermagem, anestesistas. E gente anônima! As faxineiras, que o Tarso conhecia pelo nome e as saudava sorridente, a cada turno laboral. Os meninos de outrora, colegas de infância da distante Promissão! E tantos amigos... Católicos, Kardecistas, Evangélicos, Agnósticos, vestidos com a venerável túnica do adeus emudecido. Compartilharam de igual sentimento a comungar da mesma dor de Christina, sua mãe, do irmão amado doutor Paulo Breno, da agonia infinda dos filhos, a jovem Louise e o pequeno João Pedro! Neste texto incipiente trago à lembrança uma frase dele, definidora de seu caráter. Doutora Karina e eu anuímos ser replena de sapiência: “As nossas escolhas, mais que as nossas capacidades, mostram realmente quem somos”! Toda noite de quinta, calorosa ou fria, concluída a reunião habitual a que se fazia partícipe assíduo, montava denso farnel, e, discretamente, visitava os mendigos - classificados pelos cientistas sociais “pessoas socialmente vulneráveis”. Figuras dormitando rente às paredes dos vetustos prédios que formam a paisagem da Avenida Paulista! Assim, ele exercia o seu apostolado, seu ofertório particular! Christina descobriu e o advertiu do perigo de caminhar sozinho nessas madrugadas. Tarso tranquilizou a mãe com largo sorriso! Dos pobres já se fizera amigo e eles o identificavam de longe! Despeço-me do confrade da Academia Saltense de Letras, fundada pelo seu saudoso avô, Ettore, com uma afirmação inútil. “No mundo ninguém é insubstituível, porém, algumas pessoas são indispensáveis”! Neste Vale de Lágrimas a ausência do Tarso aumenta a nossa dor. Oxalá a Fé amenize a nossa orfandade!