Na relva macia, sob sol extremamente azul e límpido de um domingo quente, a exemplo de tantas outras pessoas e, da mesma forma que eu, adepta do verde, dos pássaros e das águas do lago, minha amada - ali deitada ao frescor que acolhia -, absorta em seus sonhos etéreos, curtia os eflúvios místicos da natureza exuberante.
Num momento, com a brisa que, suave, soprava refrescando o ar dos jardins do Ibirapuera (belo e aprazível recanto desta cidade de São Paulo), sorrateiramente, uma pétala rubra deslizou por sua face rosada.
Carícia sutil d’uma flor em outra flor.
Pétala de uma rosa, flor que tanto canto, noutra flor que tanto amo.
Carícia indelével, delicadamente insinuante e tenuamente encantadora, além de uma graciosidade marcante.
Carícia da qual não senti o menor ciúme. Ao contrário, aflorou-me o regozijo, a exultação da felicidade de poder compartilhar tal momento de tão sublime afirmação e ardilosa cumplicidade da natureza como fator instigante ao jogo do amor entre mim e ela.
Na sutileza da forma acentuada, o colorido - visível e intenso - dos meus sentimentos em êxtase, expressava tão-só enaltecimento.
Um belo momento repleto não apenas do ditoso encanto a ufanear nosso romance, transformando-o num idílio excelso, tanto quanto, num celestial desígnio de almas afins, mas também, em perspicaz mostra de que, mesmo no outono de sua existência, aquela flor, aquela rosa, lançou no ar um difusor - caprichoso e feliz - de sentimentos apaziguantes àquelas situações de desgastes a que estamos constantemente sujeitos.
Sinal claro e evidente da presença divina que engalana e enobrece os sentimentos de amor incondicional, quando, daquela flor, lançou-se a pétala aveludada - ainda levemente perfumada -, meiga e fugaz, a flutuar ao sabor da brisa, ousando acariciar a derme macia da mulher.
Extrema e eloquente carícia que premia, com graça sobeja e deleite único, os olhos e os corações dos virtuosos apaixonados que somos.