Slide

José Verdasca dos Santos

verdasca eb468

Amigos, acerca do artigo com o título acima - É PORQUE O ASSUNTO É MUITO DELICADO - ACHO QUE TENHO ALGO A ACRESCENTAR.

Aceita-se, geralmente, que o CICLO do OURO e PEDRAS PRECIOSAS no Brasil coincidiu com o Século XVIII, ou seja, entre 1700 e 1800. Em palestra acerca a Colonização Portuguesa do Brasil, para cerca de 600 rotarianos de São Paulo, fui provocado - por um jovem presente - com a seguinte pergunta:

- É verdade que os portugueses levaram todo o ouro do Brasil?

Respondi mais ou menos assim:

Acho a sua pergunta muito oportuna, apesar de provocativa. Mas, se você se desse ao trabalho de ler, e começasse pela obra Cultura e Opulência do Brasil, de André João Antonil (1711), Edição de Publicações Alfa, Lisboa, 1989, seria doutor na matéria, e não faria má figura com a pergunta maliciosa. Agora, por favor, ouça com atenção:

Estima-se que a produção de ouro no séc. XVIII, foi de cerca de DUAS MIL TONELADAS. Entretanto, como a extração era feita por particulares, ao Estado apenas caberia o chamado QUINTO do Ouro, ou sejam 20% do total extraído; e, quando o ouro pagava o imposto, era titulado como QUINTADO, ou seja, como tendo pago o QUINTO, depois chamado QUINTO dos INFERNOS.

Antonil ou Antonioni - jesuíta italiano que então se encontrava no Brasil - declara que: "em cada trezentas arrobas extraídas no Brasil, apenas cem arrobas eram quintadas. Daqui concluímos que - então, como hoje - era gigantesca a sonegação e a corrupção, pelo que o Estado, na melhor das hipóteses, teria taxado menos de 700 toneladas, cujos 20% corresponderiam a menos de 140 toneladas de ouro, recebidas no Brasil pelo tesouro do Vice Reino. Entretanto, ao Estado cabia a segurança das minas, a fusão do metal, o transporte ao longo de centenas de km para o Rio de Janeiro, a administração, a abertura dos caminhos, a manutenção do Exército e da Polícia, enfim, um sem número de despesas que esses 20% cobriam. Mas, a maior parte do ouro custeou as DEZENAS de belas cidades coloniais, espalhadas um pouco por todo o Brasil, entre as quais podemos citar Ouro Preto, Mariana, São João Del Rei, Diamantina, Salvador, Paraty, Iguape e outras cidades do Norte e Nordeste, como a maravilhosa São Luiz do Maranhão.

E, ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos da América, a época do ouro nada disso deixou. Aprendi na escola primária, em Portugal, que o Convento de Mafra; foi construído com o ouro do Brasil; além deste, sabemos que esse ouro ajudou na reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1755 e que o fausto do reinado de D. João V, em parte, a ele se deve. Assim, podemos concluir que, parte do imposto QUINTO do OURO foi remetido para Portugal, talvez entre 50 e 100 toneladas, estimo eu, pois o Príncipe D. João - depois D. João VI - em 1808, chegou ao Brasil com cerca de 200 milhões de cruzados em ouro e diamantes, que era o tesouro real ao tempo.

E, para não me alongar mais, aconselho a leitura do livro de Antonil, pois é uma preciosidade, dando-nos uma visão honesta dos ciclos do ouro, da cana e do tabaco, obra gigantesca dos lusos no Brasil, em especial a cana e o gado bovino (criação de riqueza no local - Gilberto Freire), as quais, nos nossos dias, constituem o Agro Negócio, sustentáculo da economia brasileira.
*Tema que desenvolvo no livro; Col. Port. Do Brasil - Verdades e Mentiras, como contraditório a 1808; 1822, de Laurentino Gomes, que tenta diminuir a nossa colonização.     

José Verdasca dos Santos – historiador, jornalista e poeta nascido em Portugal, ocupa a cadeira 36 da Academia Cristã de Letras - ACL