
Hoje, Dia de Finados, o poeta Paulo Bomfim não morreu, apenas partiu antes de nós, deixando versos eternos a iluminar o caminho.
Essa frase poderia, sozinha, bastar. Porque há pessoas que não cabem na palavra “morte”. Há vidas que continuam respirando nas paredes das bibliotecas, nos bancos das academias, nos cadernos de anotações, nas fotografias antigas, nos abraços que ficaram. Paulo Bomfim é desses. Há quem cesse no instante da despedida — e há quem continue acendendo luz no coração de quem ficou. Ele é do segundo grupo.
Neste Dia de Finados, lembramos: Paulo Bomfim não se foi. Apenas cruzou o horizonte antes de nós, levando na bagagem a poesia da eternidade.
Finados não é um dia de dor, é um dia de travessia. A gente aprende, com o tempo, que não é sobre ausência, é sobre presença em outro plano. Quando pensamos em Paulo, não pensamos em partida, pensamos em São Paulo — a cidade que ele amou, cantou, defendeu e suavizou com poesia. Quem ama assim não vai embora: atravessa. E atravessa com bagagem. A dele tinha memória da cidade, amizade, gratidão e aquele olhar que via beleza até no concreto.
Paulo Bomfim não morreu. Apenas partiu antes, para poetar entre as estrelas.
Gosto de imaginar ele chegando num céu de poetas — Renata Pallottini, Ada Pellegrini, Cora Coralina e Guilherme de Almeida — e abrindo espaço para falar de sua Pauliceia viva, da gente simples, das avenidas que respiram, do trabalho, do pão, da luz do fim de tarde no centro. Poeta não para de poetar porque muda de endereço. Só muda o palco.
No silêncio deste Dia de Finados, o poeta Paulo Bomfim vive nas palavras, na memória e na luz dos que amam a poesia.
Porque é assim que os poetas sobrevivem: dentro de nós. Num verso que a gente lembra de cor. Num livro que não empresta. Numa foto em que ele sorri ao lado de amigos queridos. Na lembrança de quem o ouviu declamar o poema sobre São Paulo e viu, nos olhos dele, um brilho de menino. Finados é o dia de puxar essas lembranças para perto e dizer: “você continua aqui”. Não no corpo — mas naquilo que é melhor que o corpo: no afeto e na palavra.
Hoje não se chora a morte, celebra-se a travessia: Paulo Bomfim apenas seguiu adiante, onde o verbo é eterno e a alma é poema.
Talvez esse seja o segredo do dia de hoje: não parar diante do portão da saudade, mas seguir com quem partiu. A partida, para quem crê na eternidade da beleza, não é ponto final — é vírgula. Paulo apenas foi antes, como quem diz: “vou na frente preparar a mesa”. Ele não quebrou o laço; só distanciou o corpo. A poesia é a ponte.
E nós, que ficamos, temos uma missão bonita: manter vivo o que ele amou. Contar às novas gerações que houve um poeta que enxergou grandeza onde muitos só viam concreto. Que houve um homem que escolheu a delicadeza num século de pressa. Que houve um amigo leal, presente, generoso com a palavra. Que houve um Paulo que nos ensinou que cidade também é gente.
Dia de Finados, então, não precisa ser um dia escuro. Pode ser um dia de alinhamento: os que estão aqui recordam os que já partiram; os que partiram intercedem pelos que aqui ainda tateiam. E no meio desse movimento, a poesia de Paulo Bomfim age como farol: lembra-nos que a vida vale quando deixa rastro. Ele deixou.
Por isso, hoje, ao acender uma vela, ao postar uma foto ou fazer uma homenagem, diga também ao seu próprio coração: “Quem amamos não morre: apenas chega primeiro.”
O poeta Paulo Bomfim não morreu. Apenas partiu antes de nós. E, como sempre fez, deixou a luz acesa.
