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Reinaldo Bressani

No longínquo ano de 1929, diante da evolução dos conchavos políticos que viriam a alterar drasticamente os rumos da história da política brasileira em 1930, já se previa o levante paulista que, de fato, aconteceria em 1932. 15 Reinaldo Bressani

Isso porque, tal gesto representaria, como de fato representou, ATO DE LEGÍTIMA DEFESA dos interesses do estado democrático contra a usurpação do poder pelo ditador Getúlio Vargas, ocorrido em 1932. 

Mas, afinal, qual seria a razão principal desse levante constitucionalista?

Resposta a esse questionamento, impõe-nos que analisemos a sequência dos fatos históricos que, de maneira concisa, podem ser assim resumidos:

As mudanças dos rumos da condução política do país, impostas por programa de governo adverso e, de fato, implementadas por Getúlio Vargas, se revelaram totalmente consonantes ao que fora previsto em 1929.

Destarte, derrotado nas urnas no pleito de 01/03/1930, o candidato à presidência da república, Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, apoiado por Minas Gerais e Paraíba (pacto que se denominou Aliança Liberal), não se conformando com o resultado do processo eletivo legítimo, através do qual, os demais Estados e mais o Distrito Federal apoiaram o candidato paulista Júlio Prestes, comandou a tomada do poder através das armas, saindo-se vitorioso pelo uso da força bélica. Ato contínuo, depondo o então presidente Washington Luiz e, consequentemente, impedindo a posse legítima de Júlio Prestes.

Getúlio Vargas, logo revogou a Constituição vigente à época, impondo ao país, medidas insanas e despóticas, geridas a ferro e fogo.

A motivante ao golpe comandado por Getúlio seria, entre outras, a de que os paulistas estariam planejando um processo separatista em relação aos demais Estados da União, para, assim, constituírem novo país independente, quebrando a hegemonia existente.

Até mesmo as consequências da desestruturação econômica do país face à “Grande Depressão Econômica” havida em decorrência da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, foram usadas como justificativa ao golpe getulista em 1930, pois, conforme os usurpadores, a gestão inapropriada encabeçada pelos paulistas teria agravado a crise que se estendera à economia nacional.

Os paulistas, por sua vez, ante a privação da liberdade e o aviltamento do sistema republicano, impostos pelo novo regime ditatorial e, em face da dissolução dos congressos nacional, estaduais e municipais, seguidos da nomeação de interventores aos governos estaduais; das medidas de total controle financeiro pelo novo regime, com alcance sobre a movimentação de moedas estrangeiras no país; sobre a operacionalização do comércio exterior e, finalmente, sobre o setor agrícola, negaram-se peremptoriamente a aceitar o freio que lhes impunha o novo governo, pois, tal absurdo desenhava-se como elemento atrofiante de todo o pioneirismo econômico paulista, colocando em risco a estabilidade propulsora de seu progresso.

Assim, irresignados, tanto quanto, humilhados, os paulistas, inicialmente, partiram para manifestações de rua, expondo sua revolta.

De pronto, as forças do governo central reagiram e, do confronto ocorrido em 23/05/1932, morreram os paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, cujas iniciais resultaram na sigla MMDC.

Em consequência, a situação logo se agravou a ponto de, em 09/07 do mesmo ano, eclodir a revolta armada dos paulistas, a qual seria denominada “REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 32”, surgida do clamor por liberdade e legalidade.

A luta paulista durou apenas 87 (oitenta e sete) dias (de 09/07 a 04/10/1932). Mas foi tempo suficiente para sujeitar os paulistas a perdas humanas que ultrapassaram, conforme informes não oficiais, 2.200 soldados e voluntários.

E se o tempo de luta foi curto e não alcançou os resultados esperados, isso se deve ao fato de que, na última hora, os paulistas foram traídos por forças de outros Estados que haviam, com eles, pactuado união à luta visando repor a normalidade política do país.

Mas, mesmo sem o esperado apoio, os bravos paulistas lutaram o bom combate.

Foi causa justa que irmanou todos os paulistas naquela empreitada cívica a garantir os ideais em que acreditavam.

Desta forma, inferiorizado numericamente e sem armamento suficiente, tanto quanto precário, diga-se, São Paulo sucumbiu às armas, mas não à guerra pelos valores aos quais lutou.

Tanto é, que em 1933 o governo central cedeu, procedendo-se a formação de uma assembleia constituinte que, em decorrência, já em 1934, fez promulgar nova Constituição ao país, deixando claro, ao Brasil todo, a importância e o significado da luta dos paulistas.

E o reconhecimento àquele feito até hoje ressoa cristalino nação afora, como símbolo do mais lídimo clamor em favor de uma nação livre e democrática.

Reconhecimento tácito de que o sangue de seus herois não foi em vão. Foi sim, exemplo de respeito e doação de suas vidas em defesa de seus ideais maiores.

Então, São Paulo que sempre demonstrou ingênita vocação ao trabalho e ao progresso com liderança, com essa lição de civismo e altruísmo demonstrou também grandiosidade maior quando sentiu estar em jogo a própria liberdade, ferida e aguilhoada pelo jugo funesto que lhe era imposto e, claramente, atentava contra todos os princípios do regime democrático - feição deste Brasil e seus ideais pátrios.

E, por isso é que, mesmo após 90 (noventa) anos decorridos daquele feito, a memória de seus herois merece ser lembrada e homenageada como “Símbolo do Orgulho Paulista”, pois, a Revolução Constitucionalista de 32 é, sem dúvida, o maior movimento cívico paulista, ou, quiçá, brasileiro.

Destarte, se há um lema sobejamente conhecido por todos e que bem espelha a alma paulista, esse lema é: non ducor, duco.