Raquel Naveira
Johannes Vermeer (1629-1675) foi um pintor holandês, da Idade de Ouro Holandesa, época cheia de espantosas conquistas culturais e artísticas, naquele país. Foi funcionário da Guilda de São Lucas, uma associação medieval que agrupava negociantes e artesãos, em sua cidade natal, Delf. Em 1653 casou-se com uma jovem de família rica, Catharina Bolenes. Vermeer morreu com apenas quarenta e três anos, deixando sua esposa e onze filhos com enormes dívidas. A viúva foi obrigada a vender todos os quadros ao conselho municipal em troca de uma pequena pensão.
Vermeer ficou esquecido por muito tempo, sendo “redescoberto” pelo historiador Théophile Thoré, em meados do século XIX. Hoje é reconhecido como um dos maiores mestres da pintura holandesa de interiores. É típico de Vermeer o olhar íntimo sobre a cena, a luz meticulosa, a manipulação das cores, criando obras sedutoras. Retrata mulheres em cenas cotidianas como “A Leitora”, “Mulher com Balança”, “Leitora à Janela”, “Mulher de azul, lendo uma carta”, “A Rendeira”, entre outros quadros. Nessas mulheres de corpo presente há uma calma e uma profunda consciência espiritual. Sensação de quietude nessas camponesas absortas em suas tarefas domésticas. Mas o quadro mais famoso é, com certeza, “Moça com brinco de pérola”, também chamado de “A Mona Lisa do Norte”. Essa moça representa a beleza e a serenidade femininas, capturadas num momento silencioso por um observador encantado por aquele rosto delicado. Um rosto enigmático, que transmite, ao mesmo tempo, amor, tristeza e desprezo. Talvez um certo desdém pelo pintor.
O quadro inspirou o filme “Moça com Brinco de Pérola” (2003), do diretor Peter Webber. O roteiro conta a história da camponesa Griet (Scarlett Johansson) que é obrigada, por questões de falência da família, a trabalhar na casa do pintor Vermeer (Colin Firth). Aos poucos Vermeer presta atenção na moça e faz dela sua musa, nutrindo uma paixão secreta e contida, jamais manifestada em palavras. Vermeer percebe que ela é sensível, inteligente, curiosa para conhecer as técnicas da pintura, a textura das tintas, as combinações das cores. Tão diferente de sua esposa, que tem até medo de entrar no ateliê, que deseja apenas vender suas obras rapidamente para a sobrevivência. É um filme lacônico. Os sentimentos são passados por gestos, olhares que se cruzam em jogos de dor e cumplicidade. Os amores não realizados são intensos.
O quadro e o filme levaram-me a escrever “Moça com Brinco de Pérola”:
Como é bela a moça
Com brinco de pérola!
A pele alva,
O pescoço de cisne,
O olhar leitoso,
O cabelo oculto
Sob um turbante azul-noite.
A face brilha como lua nas águas,
De sua orelha pende
Uma gota de orvalho
Que se cristalizou
Numa concha madrepérola.
“Moça com brinco de pérola”
É um retrato,
Um pintor fascinado por um rosto,
Ele a amava...
E nesse momento
Deve tê-la pedido em casamento.