“A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido.” - Confúcio ou Kung-fu-tzu (551 a.C. - 479 a.C.), filósofo chinês.
Helio Begliomini
Ingressei na Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames) em 26 de maio de 1986, filiando-me na Regional do Estado Rio de Janeiro e tomando posse em solenidade na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Naquela época não havia representação paulista dessa entidade. Permaneci dois anos na regional fluminense, até que um trabalho hercúleo da querida amiga Maria José Werneck (1920-2003), que presidiu a filial do Estado do Rio de Janeiro por quatro gestões (1984-1985, 1990-1991, 1994-1995 e 1996-1997), forçou a mim, bem como ao estimado amigo Flerts Nebó (1920-1917), que fundássemos a regional paulista da Sobrames.
Deve-se salientar que a Sobrames foi fundada por Eurico Branco Ribeiro (1902-1978), na cidade de São Paulo, nas dependências da insigne Associação Paulista de Medicina, em 23 de abril de 1965, como Sociedade Brasileira de Escritores Médicos (Sbem). Com o tempo, diversos membros dessa confraria questionavam que eram primordialmente médicos e não escritores, e foi surgindo, paulatinamente, um anseio cada vez maior por mudança do nome da entidade.
Em 27 de setembro de 1979, houve uma Assembleia Geral Extraordinária na cidade de Belo Horizonte para discutir essa questão, sob a presidência (1979-1980) de Olivar Dias da Silva (1909-1997), o que resultou na aprovação do atual nome – Sobrames.
O presidente que antecedeu essa Assembleia era o paulista Duílio Crispim Farina (1921-2003), grande intelectual, mas que renunciou ao cargo em março de 1979, 13 meses após o início de sua gestão, sendo o único na história da entidade, que não terminou seu mandato! Infelizmente, tanto Duílio Crispim Farina quanto Eurico Branco Ribeiro, fundador da grei, bem como os paulistas coevos de modo geral influenciados por ele, não eram a favor de mudar o nome da entidade e, em decorrência disso, não aceitaram o resultado democrático e estatutário da Assembleia de Belo Horizonte. Assim, a Sbem paulista, caminhou só, desgarrada das outras regionais, por mais uns poucos anos, definhando e extinguindo-se.
A Sobrames paulista foi fundada em 16 de setembro de 1988, visto que os antigos membros da Sbem não quiseram dela fazer parte. Essa efeméride aconteceu na extinta Pizzaria Ilha de Cós, na Vila Clementino, e contou com a presença de uma comitiva de quatro membros do Rio de Janeiro, liderada por Maria José Werneck, ladeada pelos médicos escritores André Petrarca de Mesquita (1914-1998), ex-presidente da regional fluminense (1978-1979); Syllos de Sant’Anna Reis (1926-1997), na ocasião, presidente da regional fluminense (1988-1989); e Paulo Silva de Oliveira, cujo nome artístico é Paulo Fatal (1947-), que, posteriormente, também foi presidente da regional fluminense (1998-1999, 2015-2016 e 2017-2018).
Ao longo desses 35 anos tenho acompanhado e trabalhado pela Sobrames, sendo um dos mais antigos membros que tem participado de atividades estaduais e nacionais da entidade. Ocupei e tenho ocupado vários cargos na regional paulista e alguns na sede nacional. Tenho participado de diversos congressos, jornadas e encontros literários e amealhado muitos amigos no nosso imenso país.
Por ocasião do início das comemorações do cinquentenário da pujante Regional Pernambucana da Sobrames, fundada em 24 de fevereiro de 1972, que ocorrerá em fevereiro de 2022, saliento que, quando fui honrado em presidir a sede nacional, ainda no crepúsculo do século XX (1998-2000), posso dizer que recebi tão ou mais apoio de sobramistas pernambucanos do que dos confrades de minha própria regional!
Já manifestei gratidão diversas vezes, em público e por carta, mas nunca é demais reconhecer e, efusivamente, agradecer pessoas que foram responsáveis por essa ajuda: José Geraldo Távora (1920-2003), então presidente da Sobrames de Pernambuco (1998-1999 e 2000-2001), e Luiz Gonzaga de Braga Barreto, então secretário, com que tenho tido ao longo desses anos uma amizade crescente e mui fecunda, e que viria presidir a regional pernambucana (2004-2005 e 2006-2007) e a Sobrames nacional (2015-2016).
Durante minha gestão na Sobrames sede nacional, acumulei um acervo apreciável de informações e de historiografia. Como a entidade nunca teve sede própria, temia que tudo o que tinha amealhado viesse a desaparecer com o tempo. Aliás, infelizmente, isso veio a acontecer com a medalha original Eurico Branco Ribeiro, criada em minha gestão na Sobrames nacional – símbolo do mandato presidencial – e que deveria passar de presidente a presidente, mas que depois de alguns poucos mandatos ulteriores foi perdida, lamentavelmente!!!
Antevendo que esse temível destino pudesse acontecer com outros documentos, e tendo em vista que, à época, bem como hoje em dia, a Sobrames de Pernambuco é uma das mais organizadas e estruturadas regionais da Sobrames, além de ter aprazível sede própria, pedi aos confrades José Geraldo Távora e Luiz de Gonzaga Braga Barreto, que por essas razões, doravante, custodiassem o acervo da Sobrames nacional, fato que, felizmente, se concretizou.
Sucedeu-me na sede nacional o sul-rio-grandense Luiz Alberto Fernandes Soares (1938-2018), aliás, o único que teve mais de um mandato em nossa grei (2000-2002; 2004-2006 e 2007-2008), que desenvolvendo trabalho conjunto comigo, pudemos inaugurar na sede da Sobrames Pernambuco, a “Galeria dos Presidentes da Sobrames Nacional”, onde constam algumas fotos de dificílima obtenção!
Na Sobrames conheci e tenho conhecido exímios escritores que foram galardoados em pertencer a diversas academias de letras ou outras entidades culturais e literárias, ou que teriam predicados de sobra por nelas ingressar! Por oportuno, cito apenas alguns de nossos membros que atingiram os píncaros da consagração como escritor:
Eurico Branco Ribeiro, fundador da Sbem, hoje, Sobrames, presidiu a Academia de Medicina de São Paulo (1954-1955) e o Rotary Club de São Paulo (1945-1946), além de ser um dos criadores da Fundação de Rotarianos de São Paulo. Ademais, tornou-se o fundador da cadeira no 27 da veneranda Academia Cristã de Letras e o terceiro ocupante da cadeira no 6 da centenária Academia Paulista de Letras;
Duílio Crispim Farina, ex-presidente da Sbem (1978-1979), que se tornou membro e presidente da Academia Paulista de História (1989-1994); segundo ocupante da cadeira no 27, bem como presidente da Academia Cristã de Letras (1984-1985), além de ter tido o privilégio de ser eleito o segundo ocupante da cadeira no 40 da veneranda Academia Paulista de Letras;
Lúcio Gonçalo de Alcântara (1943-), membro da Sobrames do Ceará, prefeito de Fortaleza (1979-1982), deputado federal (1983-1987 e 1987-1991), vice-governador do Ceará (1991-1994), e quinto e atual ocupante da cadeira no 26 da vetusta Academia Cearense de Letras;
Pedro Henrique de Saraiva Leão (1938-), presidiu a Sobrames Regional do Ceará e a Sobrames nacional (1996-1998); tornou-se o quarto ocupante da cadeira no 25 e presidente da vetusta Academia Cearense de Letras (2009-2012);
Waldênio Florêncio Porto (1935-2020), presidiu a Sobrames Regional de Pernambuco (1988-1989 e 1990-1991) e a Sobrames nacional (1992-1993); fundou, em 1992, a Umeal – União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos e se tornou seu primeiro presidente, voltando ao cargo (2007-2014). Ademais, ingressou em 1995, como sétimo ocupante da cadeira no 15 da egrégia Academia Pernambucana de Letras, presidindo esse sodalício por 10 anos! (2002-2012).
Por falar do início das comemorações do cinquentenário da Sobrames de Pernambuco, não poderia deixar de mencionar os ex-presidentes desta querida regional que também tiveram o privilégio de pertencer à insigne Academia Pernambucana de Letras, dentre outros sodalícios:
Valdemar de Oliveira (1900-1977), primeiro presidente da Sobrames Pernambuco (1972-1973), tornou-se o segundo ocupante da cadeira no 25 da Academia Pernambucana de Letras e presidente desse sodalício por 11 anos (1950-1961)!;
Reinaldo da Rosa Borges de Oliveira (1930-), presidente da Sobrames Pernambuco (1982-1983) e o terceiro e atual ocupante da cadeira no 24 da Academia Pernambucana de Letras;
José Nivaldo Barbosa de Sousa (1924-1913), presidente da Sobrames Pernambuco (1984-1985) e o segundo ocupante da cadeira no 34 da Academia Pernambucana de Letras;
Alvacir dos Santos Raposo Filho (1950-), presidente da Sobrames Pernambuco (1992-1993) e o quarto ocupante da cadeira no 39 da Academia Pernambucana de Letras.
Por oportuno devem ser lembrados outros membros da Regional Pernambucana da Sobrames, que também se tornaram imortais da ínclita Academia Pernambucana de Letras:
Orlando da Cunha Parahym (1911-1999), quarto ocupante da cadeira no 14;
Rostand Carneiro Leão Paraíso (1930-2019), quinto ocupante da cadeira no 14;
Leduar Figueiroa de Assis Rocha (1904-1994), sexto ocupante da cadeira no 15; e Amaury de Siqueira Medeiros, quarto e atual ocupante da cadeira no 20.
Esta lista iria muito longe e, com certeza, esqueceria muitos nomes de diversas outras regionais.
O que mais cativa na Sobrames não é somente o relevante valor intelectual, educacional e literário de seus membros, mas, em sua maioria, a maneira simples de ser, não ostentando o pejo da arrogância ou o ranço dos presunçosos!
Pertencer à Sobrames estimulou-me a desenvolver meus artigos e livros não científicos; aguçou meu humanismo no exercício de minha profissão e deu-me a oportunidade de conhecer um rol de grandes intelectuais nos mais diversos rincões do Brasil.