Geraldo Nunes
Caros confrades, queridas confreiras, público em geral. Dando sequência ao nosso resgate de crônicas engavetadas que foram escritas para serem lidas no rádio, faremos agora mais um exercício de leitura em voz alta. Criamos um microfone imaginário. O que acharam vocês?
Cidade triste e verdadeira, resumo do Brasil
Uma casinha de torrão e palha, quatorze passos de comprimento, doze de largura.
Eram essas as medidas da igreja original dos jesuítas da São Paulo de Piratininga, conforme Anchieta, em uma de suas cartas.
Dorso de colina, imensidão de verde e água em quantidade a espreguiçar-se nas curvas do Tamanduateí, a desperdiçar-se nas cheias do Tietê, a espraiar-se no acalmar da correnteza.
O lugar onde nasceu o colégio e a futura metrópole não surgiu por acaso, foi tudo planejado e escolhido previamente.
Se sabia da existência de riquezas e de uma tal trilha do Peabiru.
A Piratininga dos peixes e dos padres, virou ponto estratégico, arrimo de paulistas desbravadores.
Desde então, pela generosidade dos padres fundadores, São Paulo virou refeitório e escola para os índios, dormitório dos pobres e enfermaria dos doentes.
São Paulo segue sendo assim até hoje, cidade nascida para servir, cuja servidão prossegue há mais de 450 anos.
Gigantesca, a capital do trabalho está agora repleta de pedintes e desalentados da sorte, gente que não tem para onde ir.
Só que suas águas se tornaram sujas pela podridão de seus rios mortos, entremeados por parques com flores artificiais.
Ainda assim, continua sendo o lugar das expectativas, da busca por dias melhores, mas até quando será assim, já não se sabe.
Seria São Paulo capaz de voltar aos seus primórdios?
Ter rios novamente limpos e a céu aberto, com o Anhangabaú e o Tamanduateí, seguindo livres para abraçar o irmão maior Tietê?
Sonho difícil de alcançar, mesmo na cidade daqueles que tem fé.