Luiz Eduardo Pesce de Arruda
O maestro Seiji Ozawa, idoso e senil, foi conduzido ao tablado do maestro Zubin Metha. Superando sua aparente desconexão com a realidade, ele regeu várias passagens com exatidão.
Vivi uma cena parecida.
Eram os 80 anos do coronel PM Sylvio Marcondes de Rezende, um cavaleiro Cadre Noir de Saumur e cavaleiro olímpico nos Jogos de Munique em 1972.
Iria montar pela derradeira vez no picadeiro do seu amado Regimento de Cavalaria "9 de Julho". Todos sabiam que aquela seria sua despedida da prática esportiva que amou e honrou por 70 anos. E nada mais justo que fazê-lo com uma apresentação de adestramento. Se a equitação é nobre, o adestramento é o ápice da equitação
Homem e cavalo fundem-se em um único corpo e uma única vontade. Pela regularidade e leveza das andaduras, pela delicadeza, precisão e facilidade dos movimentos, o cavalo dá a impressão de realizar a sequência de exercícios por sua própria vontade. Na verdade, ele responde de forma imediata e, até intuitiva, às solicitações do cavaleiro, com o qual interagiu por anos até alcançar tal grau de interação. São dezenas de movimentos pré-definidos, onde cavalo e cavaleiro agem em perfeita harmonia.
O cel Sylvio Marcondes de Rezende estava com senilidade avançada, alternando francês e português em suas falas. Aparentemente, não conhecia quase ninguém mais, exceto o então major Rui César Mello, grande cavaleiro, seu discípulo no adestramento e mais tarde, coronel Comandante Geral da Polícia Militar.
A despeito de sua aparente ausência de memoria, fez a pista sem cometer nenhum erro, emocionando o publico. Como o Maestro Seiji Ozawa, a equitação não era para o coronel Sylvio um exercicio de memória, mas extensão de sua própria alma.
Assista abaixo o emocionante vídeo