Lázaro Piunti
Eu já tinha chegado à idade do outono e imaginava não ter mais nada a aprender. E muito menos a ensinar!
Foi quando me encontrei com aquele homem, no começo de uma noite fria, na rua quase deserta.
Algo me fez parar e contemplá-lo. De perto. E logo percebi: o inverno da existência coabitava naquele alquebrado corpo.
E ele sorria! Apenas! Vi nos seus olhos um brilho intenso.
Talvez tenha sido esse olhar que me prendeu ali.
Puxei conversa!
Ele carregava o mundo dentro de si! Experiências vividas! As marcas profundas do rosto revelavam o sexagenário!
Eu lhe perguntei se era feliz. Antes de responder ele me ofereceu um olhar luminoso e novamente sorriu.
Não era um sorriso triste. Longe disso. E então falou:
- “Moço – me chamou de moço – a felicidade vem em conta-gotas, ela se faz de pequenos momentos; dos instantes que se vive; no amor, na atitude generosa, no gesto solidário”!
E se calou! Ficamos ambos, em silêncio por algum tempo. Mais tarde, como eu ainda permanecia próximo, ele retomou a palavra:
- “A felicidade plena, completa, inteira, só se alcança no outro andar”!
Estendendo o braço flácido, a mão trêmula apontou para o céu! Deitado sobre o banco recoberto de jornais velhos se encolheu nos farrapos que o envolviam. E emudeceu!
Eu me mantive, por breve tempo, contemplando aquele ser humano, na esperança de alguma frase nova! E refletia quanto à essência de suas palavras.
Em vão esperei por algo mais!
Notei, de repente, que ele cochilava e, logo, se protegeria no sono dos justos!
Em silêncio retomei o meu caminho!
Aquele homem, anônimo cidadão da rua, era um sábio!
Inverno de 2016.