Reinaldo Bressani
Imagens antigas trazem-nos memórias dos idos tempos. Tempos diluídos pelas ações havidas nas distâncias do próprio tempo.
Lançam-nos numa aventura que acende as saudades, inundando o peito e perfumando o coração. Visões retroagem no tempo e reacendem paisagens que um dia nos pertenceram. Trazem adocicados sabores há tempos olvidados pela memória, mas que, no instante da magia do sonho alumiam-se aos olhos fascinados, rasgando os mistérios do hiato temporal presente entre o berço e a velhice. Emergem das penumbras dos umbrais submersos nas ações do esquecimento, permitindo-nos uma imersão pelos espaços por onde, um dia, caminhamos a liberdade plena da vida, dos sonhos e dos amores, agitando-nos o coração que se vê nos jardins de outrora, nas paisagens e nas flores que levávamos na garupa dos ventos gentis da juventude e dos cálidos ideais.
É como se a luz de uma estrela guia rasgasse os céus outonais e nos abrisse um tempo eternizado na alma. É como se a fimbria do horizonte do tempo noturno se elastecesse em sentido reverso, abrindo-se em claridade debruçada nas paisagens de uma janela de sonhos.
É como se as águas de um rio retornassem à nascente, trazendo com elas as folhas mortas caídas em suas correntes no outono de seu tempo, e as devolvessem ao verde primaveril das matas ciliares.
É como se uma brisa sussurrando preces, ecoasse mansinho pelo reino dos mistérios da própria vida, envolvendo-nos numa repentina aventura de toques aveludados e acariciantes, não obstante isso ocorra em meio à certeza inconteste de que a vida nada mais é que um ciclo finito envolto de momentos de alegrias e tristezas, risos e choros, vitórias e derrotas, que, ao final, irão se esvair no tempo da saudade, e dos quais restarão apenas as lembranças. Por isso, enquanto tivermos luzes sobre esses momentos que se avivam em nossa memória, vamos curti-los e aproveitá-los. E se possível, aproveitar, tão só, os melhores. Aqueles que nos exalem perfumes primaveris e brisas suaves, com a nudez radiante e selvagem capaz de recolocar, ainda que pelo instante da magia do sonho, um sorriso largo e esfuziante em nossos lábios... bordados já de silêncio e murmúrios de saudade.
Reinaldo Bressani - Cadeira nº 15 da ACL