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Rosa Maria Custódio

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Sim, eu deveria estar saudando os Pais neste dia especial... Mas cresci em uma família numerosa, onde minha mãe assumia todas as responsabilidades e obrigações da casa e dos filhos. Além de começar a trabalhar aos 13 anos, para pagar minhas despesas mais essenciais (material escolar, roupas, sapatos, e outras) eu continuei ao longo de minha vida, trabalhando, estudando e pagando as minhas despesas. Não tive, assim como meus irmãos não tiveram, a efetiva presença de um Pai.

Aos 20 anos, já estava emancipada, fui contratada por uma grande empresa. Fui morar no Rio de Janeiro e continuei trabalhando, estudando e pagando minhas contas. Formei-me em Estudos Sociais na Faculdade de Ciências e Letras Notre Dame, no Rio de Janeiro, onde morava. Depois formei-me em Comunicação Social/Jornalismo, na Faculdade Estácio de Sá, na mesma cidade. Estudei inglês e francês... Fiz Pós-Graduação em Letras... E viajei muito.

No dia de hoje, penso no meu pai (a maior parte do tempo ausente em minha vida), na vida de meus irmãos e de minha própria mãe. É um pensamento de nostalgia, de ausência de afeto. Ele não recebeu e não soube dar... Penso também na figura dos homens que escolhi para viver a vida a dois, sem qualquer pretensão de constituir uma família.

Quando me apaixonei e decidi viver junto com a pessoa que eu amava, descobri que a vida, no dia a dia, era muito diferente daquela que eu conhecera nos livros de romance que, a partir da adolescência, ocasionalmente, passaram pelas minhas mãos...

Para minha surpresa, numa tarde de novembro, em 1978, descobri que estava grávida. Foi então, no período de licença maternidade, quando mais eu precisava de ajuda e proteção, que descobri o peso de uma desilusão: meu companheiro era viciado em jogo, mantinha em segredo esse vício, com o qual perdia quase tudo o que ganhava. Isso explicava o fato de que, apesar de nós dois trabalharmos e ganharmos o razoavelmente bem, ainda estarmos morando em um apartamento alugado.

Quando ele começou a me pedir dinheiro emprestado, sem intenções de me pagar de volta, uma luzinha vermelha acendeu em minha mente. E a separação foi acontecendo aos poucos... Mas o pior ainda estava por vir: ele era Bacharel em Direito e se aproveitou do conhecimento que tinha, mais a ajuda de alguns “amigos” do Judiciário, para me torturar: entrou na justiça para tirar de mim a posse e guarda do filho. Foram anos muito difíceis. Eu quis a separação porque queria viver em paz. Nunca pedi pensão, nem mesmo para a escola do filho...

Anos depois, querendo acreditar que me bastava ter um “Companheiro” com C maiúsculo, casei-me novamente... Ele era divorciado, sem filhos, tinha um bom trabalho, mas ainda morava de aluguel e foi morar no apartamento que eu comprara e que ainda estava pagando. Com o tempo, percebi que eu ia assumindo todas as despesas domésticas, enquanto ele guardava seu dinheiro para comprar seu próprio apartamento e seguia sua vida normalmente. A afinidade inicial, que desde o início foi rarefeita, evaporou-se por completo. A relação perdeu seu sentido: não havia companheirismo e muito menos amor. Foi, sim, uma desilusão, mas desta vez sem estragos emocionais.

Por volta dos 50 anos, a última tentativa... Conheci um Companheiro de verdade, que me abriu algumas portas e me proporcionou experiências novas e positivas. Tivemos um bom relacionamento, por alguns anos. Mas, entre nós, havia um problema que ele, como bom leonino, não dava importância. O que ele queria era lei. E eu, como boa aquariana, com minha história de emancipação precoce, não podia abrir mão da minha liberdade... Desde muito jovem, eu gostava de escrever e sabia que a ESCRITA era importante na minha vida. Nós chegamos a fazer algumas coisas juntos neste sentido, mas sempre dentro de suas diretrizes.

Meu sonho, acalentado durante muitos anos, era dedicar mais tempo aos meus projetos literários. Assim que me aposentasse, abriria as muitas pastas que fui guardando e acumulando ao longo do tempo, cheias de pesquisas, anotações e reflexões sobre a vida e as viagens... Mas o leonino que a vida colocou diante de mim, queria sair, viajar, passear...

Por insistência dele, fizemos algumas viagens juntos pelo interior do Brasil... Havia na relação um misto de amor, romance e admiração. Por alguns anos, acreditamos um no outro. Mas a Vida e o Tempo provocam mudanças que vão além da nossa compreensão. Como num filme de mistério, somos jogados num túnel, sem saber para onde vamos, onde fica a saída e quando chegaremos ao destino... Seguimos em frente porque acreditamos que existe um propósito.

É difícil entender o propósito de um casal, quando o tempo vai mostrando as diferenças no imaginário de cada um, quando cada um está olhando para uma direção, com seu projeto de vida pronto. Foi assim que este relacionamento tão promissor chegou ao fim, depois de alguns anos de convivência, que culminou depois de um mês de férias em Portugal, com direito à algumas viagens pela Espanha...

Ele com sua câmera de vídeo em sua mão, eu com a minha máquina fotográfica. Muitas vezes, o filme se faz em poucos minutos, e até mesmo em alguns segundos. A foto pode acontecer num click, mas muitas vezes depende do tempo, da exposição, e daquilo que queremos registrar... Se os viajantes não respeitarem o tempo do outro, tudo fica mais difícil. Como aquariana, nasci para ser independente, ter vontade própria e lutar pela liberdade. Não sou, de boa vontade, uma seguidora.

Os homens estão acostumados a achar que as mulheres nasceram para os servirem, para fazerem o que eles acham melhor, para satisfazerem seus desejos... É claro que existem exceções... São poucos, mas existem os casamentos felizes, quando existe amor verdadeiro, respeito mútuo e companheirismo de verdade.

Com relação ao DIA DOS PAIS, dos homens, dos maridos, dos companheiros – apenas de forma simbólica – eu posso encontrar razões para celebrar. Apesar de serem igualmente responsáveis pela perpetuação da espécie, são poucos os que cumprem de forma exemplar os seus papéis de bons irmãos, namorados, companheiros, maridos e pais.

Mesmo assim, vamos privilegiar esses poucos que fazem a diferença na vida particular, social, cultural e pública. O papel dos homens na Sociedade, em todas as áreas, inclusive na política, é fundamental para o desenvolvimento e a felicidade das pessoas.

FELIZ DIA DOS PAIS!!!