Geraldo Nunes – Crônicas para serem lidas no Rádio 2 –
Triste é descer em São Paulo de avião e ver depois seu principal rio inteiramente sujo.
Triste é a fumaça das chaminés que ainda existem e a poluição dos escapamentos neste trânsito infernal, “salada de loucos enlatados”, me disse certa vez um poeta.
Triste é ver a varrição das ruas que logo em seguida serão de novo emporcalhadas por alguém que não zela do bem comum.
Tudo me entristece e só me alegro quando chegam na lembrança os aromas e os sabores da infância.
O perfume das maças nas feiras livres do meu bairro era maravilhoso, assim como adorava ir ao Largo do Arouche e sentir o aroma das flores vendidas nas barracas.
Tudo parecia tão belo, mas fazia parte do lúdico da inocência juvenil.
Ah! Os doces, o que dizer deles?
Não via a hora de chegarem as festas juninas, para saborear a canjica e os bolos de fubá recém-saídos dos fornos em família.
São Paulo também tinha bairros perfumados!
O Pari, repleto de confeitarias, cheirava a doces e o Belém com suas torrefações guardava na atmosfera o aroma do café passado no coador.
Será que ainda há lugares assim ou era tudo imaginação?
Existe a letra de uma música que diz: “No tempo da maldade acho que a gente nem era nascido...”
Cresci, mudei, perdi a ingenuidade, mas a São Paulo da infância ainda vive em mim e eu nela, sempre.
Geraldo Nunes* - jornalista eleito para a cadeira 27 da Academia Cristã de Letras