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Fonte: blog do alex fraga

Raquel Naveira

arco e flecha c2e2f

Desta vez acertarei o alvo. Recebi de presente um arco dourado, feito de bronze, para estes tempos de guerra. É pesado, mas posso tensioná-lo, distender a corda e arremessar a flecha. Preciso abater o inimigo que se aproxima com olhos de fogo. Defender-me do perigo, desintegrá-lo. Dirijo a flecha para o alto, em direção ao céu. Em instantes ela vai zunir como um raio, uma linha vermelha, um traço de luz nas trevas de minhas próprias dúvidas e imperfeições.

Desta vez acertarei o alvo. As flechas estão enfileiradas numa aljava. São afiadas, com pontas de lâminas e penas vermelhas nas extremidades. Polidas, vieram de antigas tribos. Há um objetivo a ser alcançado. Coloco toda minha energia nesse ato. Puxo o arco para trás. A dificuldade é enorme. Tenho certeza de que triunfarei na caça, de que atingirei algo grande. Preciso de mais força sobre os quadris e intuição rápida.

Um dia, fui flechada por um Anjo. Era filho do Amor e da Morte. Veio nos ares e disparou no meu peito. O meu arco transformou-se numa harpa. A corda ficou enterrada na palma de minha mão. Abriu-se uma ferida que sangrava sem parar. Eu não podia mais escrever poemas sem sentir dor. Sentei-me sob um ipê de flores brancas e fui arrancando as flechas do meu coração. Era tempo de preparação e espera.

Assim como o Anjo abriu a ferida, ele a fechou. Atraiu-me a esse deserto, deu-me vinhas, esperança de que nações cairão aos meus pés. Entregou-me o arco de bronze e as flechas. É hora de atirar, eu sei. Falta ainda a decisão final de soltar a flecha. Desta vez, acertarei o alvo.