“A morte nos alcança no luto alheio” (Cinthya Nunes)
Minha amiga Cinthya me fez refletir como está sendo difícil lidar com a morte de tantos desconhecidos, conhecidos, amigos dos amigos e celebridades.
Como processar e contabilizar tantas perdas todos os dias? Como entender e enfrentar todos esses sentimentos que nos visitam diariamente.
O mundo está vivendo um luto coletivo por conta da pandemia.
A OMS – Organização Mundial da Saúde já deu nome a um estudo feito na Irlanda, onde fala de “Fadiga Pandêmica”. É o cansaço mental, o esgotamento físico e a desesperança que bate à nossa porta todo dia. Sim, temos que reagir, construir um discurso eficiente para encorajar os que nos rodeiam, pois a luta pela vida continua.
Um tempo atrás, uma amiga no Whatsapp me perguntou como eu estava. Infelizmente ela me abordou em um péssimo momento, onde o desânimo e abatimento beiravam a depressão. Fiz um breve desabafo, e ela, sem nenhum constrangimento me sacudiu. Como eu, pessoa alto-astral, com a capacidade de entusiasmar todos ao redor poderia estar nessa condição. Não mesmo, você não pode ficar assim, porque você é nosso norte. Nosso porto. Agradeci e melhorei.
Não costumo reclamar para muitos. Geralmente concentro minhas reclamações com poucos. Prefiro sempre sorrir, mesmo quando falo ao telefone. Acredito que o otimismo faz o mundo melhor. E sou da política que: “Se não tem nada de bom para dizer, cale-se”.
Acordo todos os dias pensando em parar de assistir aos noticiários. Me questiono porque muitos não acreditam na letalidade do vírus. O mundo inteiro padece, passa pelas mesmas experiências e sofre com os resultados dos que negligenciam os mínimos cuidados, o básico, como usar máscara.
Quando sou obrigada a sair para fazer supermercado, observo todas aquelas pessoas que estão transitando, vejo pessoas sem máscara, outras com a máscara no queijo, na mão, pendurada em uma só orelha, e vejo muitos motoristas, com vidros abertos e sem máscara. Penso que eles acreditam porque estão dentro do carro, estão protegidos.
A incerteza gera o medo.
No dia 2 de abril, fez 7 meses que enterrei meu pai. Sofro, choro, sinto um vazio imenso. Sinto falta, e a dor é maior quando penso que nunca mais vou encontra-lo ao viajar para o Paraná e nunca mais vou vê-lo me esperando no portão para o abraço de saudade. Ele não morreu de Covid-19, mas de demência, em 6 meses aflorou e fez com que ele perdesse o maior prazer que tinha, comer. Foi perdendo os movimentos para deglutir. E a coisa mais gostosa desse mundo era ver meu pai comer. Ele comia gostoso. Herdei dele o gesto de amassar o feijão para misturar ao arroz, e o gosto pela manga coquinho.
Por isso, olho com carinho essa foto que tirei em um dia tão feliz em que passeava com meu pai na cidade vizinha de onde ele morava, no Paraná. Na cidade onde nasci, Paranavai, na casa da minha avó paterna, Rita.
Perdi outra pessoa da família mês passado, irmã do meu avô paterno, minha tia-avó, aos 94 anos, com Alzheimer. Não fez parte da estatística pandêmica, mas teve, como todos, um sepultamento rápido com velório de somente 3 horas.
O sentimento de incerteza é que sufoca. Tem ocasiões em que nos sentimos culpados pelo privilegio da família estar bem, independente de ter tido três casos de contaminação pelo vírus em sobrinhos e primos, e, os mesmos saíram ilesos.
Muitas vezes temos que administrar o emocional, pois conseguimos nos colocar no lugar do outro e compreender sua dor e seu luto.
Todos os dias devemos nos reestruturar para seguir em frente com o pensamento que um dia tudo vai melhorar e tudo vai passar, mas, temos que lidar com as consequências ou os efeitos colaterais, que virão com certeza.
Quando os entendidos dizem que o medo é o mecanismo de defesa do organismo para preservar o cérebro, penso que tem muitos jovens com “TILT” cerebral. Tilt para quem não sabe, é uma expressão que usávamos a quase duas décadas para determinar uma pane em um computador ou qualquer aparelho eletrônico. Então, na minha visão, muitos jovens estão com pane mental, não conseguem assimilar, absorver, pensar no perigo em que colocam seus pais, tios e avós. Estão preocupados somente com seu próprio bem-estar para festas clandestinas. Quantos casos conhecemos ou já ouvimos falar.
Para terminar, quero deixar registrado que meu pensamento mágico (é assim que alguns chamam o meu positivismo), é que devemos tentar a todo custo, ressignificar nossa existência para um mundo melhor. Consolidar nosso amor ao próximo. E podemos fazer isso a distância mesmo. Pare e pense em quantas pessoas estão isoladas e sozinhas. Do meu rol de amigos conheço pelo menos umas cinco pessoas. Não custa pegar o telefone de vez em quando para ligar e ter esse contato que fará bem ao próximo e a você também. É uma forma de nutrir esses elos de amizade que certamente nos trarão fortalecimento afetivo. A preocupação com o outro. Plantando amor, colheremos gentilezas, carinhos, afagos e quem sabe, tantas formas de gratidão.
Deus te proteja! Deus nos proteja!