Slide

di bonetti 2019 c92db

Di Bonetti

A morte. Um tema proibido, evitado ao máximo. É como se ignorando a morte, pudéssemos torná-la menos real.

Fico cada dia mais deprimida ao constatar que a morte é um fato. Digo isso como se, em algum momento, tivesse acreditado que poderia ser diferente. Mas não. O fim está escrito desde o começo, e seguimos caminhando em sua direção — uns apressados, outros relutantes — todos fingindo não enxergar o mesmo horizonte, de onde ninguém escapa.

Vamos todos morrer, mais cedo ou mais tarde. Essa é a única certeza inegável. O que fazemos com esse conhecimento? Se sabemos que a vida é finita, por que a desperdiçamos com ódio, vaidade e pequenas mesquinharias? Por que, em vez de nos tornarmos melhores, nos permitimos afundar na lama da indiferença?

Eu penso na morte. Penso nela todos os dias. Sinto uma vontade quase incontrolável de perguntar às pessoas como a enxergam, do que realmente têm medo. Queria falar abertamente sobre o que sinto, sobre como percebo o tempo corroendo os corpos, as dificuldades motoras surgindo, as limitações se impondo. Mas me calo. Porque a morte é um tabu, e poucos estão dispostos a encará-la. Sempre olhei para o outro com o desejo genuíno de tornar sua jornada mais leve, de estender a mão, de oferecer alívio. Mas quantos fazem o mesmo? Quantos poderiam transformar a vida do próximo e, ainda assim, escolhem o caminho do egoísmo?

E ao refletir sobre isso, observo aqueles que têm sede de poder, que se agarram a seus cargos e privilégios como se fossem eternos. Tripudiam sobre os mais fracos, ditam regras, impõem suas vontades e se julgam acima do destino comum. Agem como semideuses, esquecendo que também são pó e ao pó retornarão. Como podem ser tão cegos diante do óbvio? Como podem acreditar que a morte não os alcançará?

Afinal, que mistério é esse que nos assombra e nos fascina? O que há do outro lado? O esquecimento? A eternidade? O silêncio ou a redenção?

Se soubéssemos a resposta, talvez não houvesse tanto medo. Talvez, em vez de endurecer o coração, aprenderíamos a suavizar a alma. Mas a dúvida nos faz mesquinhos. Em vez de abraçarmos a finitude com graça, nos tornamos mais egoístas, mais impacientes, mais cruéis.

O tempo se dissolve entre nossas mãos e, em vez de esculpirmos nele gestos de bondade, insistimos em gravar marcas de dor.

A morte, essa verdade silenciosa e inegociável, nos observa à distância. Não tem pressa. Sabe que, um dia, todos seremos dela.

E, ainda assim, seguimos como se fôssemos eternos.

Talvez seja uma forma de autodefesa. Nunca pensamos na morte porque pensar nela nos rouba o fôlego da vida. E assim seguimos. Fingimos que a morte não existe, até o dia em que ela nos encara de perto e não há mais para onde desviar o olhar.