No dia 28 de setembro, na catedral de São Paulo, foi celebrada a ordenação episcopal de um sacerdote de origem cigana, Pe. Jorge Pierovan. Que eu saiba, é um fato histórico e cultural bem relevante, pois se trata do primeiro cigano consagrado bispo no nosso País. O ordenante foi o Cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, assistido por vinte e um bispos, inúmeros sacerdotes e uma plêiade de fiéis, dentre os quais centenas de ciganos, sobretudo de São Paulo e do Rio do Sul, terra natal do novo bispo, que será bispo-auxiliar de São Paulo, devendo governar a Região Santana, norte da capital paulista.
O novo bispo, de família proveniente do Vêneto (Itália), instalada em Vanini-RS desde o final do século XIX, nasceu em 19 de agosto de 1964. Fez seus estudos de humanidades e serviço militar (é sargento da reserva do Exército) na sua terra, formou-se em Filosofia na Universidade de Caxias do Sul e decidiu ser sacerdote, vindo para São Paulo, residindo numa cabana de lona, onde trabalhava com circenses, enquanto prosseguia seus estudos de Teologia na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (bairro do Ipiranga), hoje pertencente à PUC-SP. Ali fez também estudos pós-graduados, especializando-se na pastoral dos nômades. Foi pároco de algumas paróquias da Região Lapa, até substituir, como Vigário Episcopal, o bispo da região, Dom Júlio Endi Akamine, transferido para Arcebispado de Sorocaba.
Durante duas décadas o hoje Bispo Dom Pierozan trabalhou no Brasil e no exterior com os nômades, os circenses e os ciganos, demonstrando um empenho extraordinário com uma população ainda vítima de preconceitos e marginalização.
Nas palavras de agradecimento, no final da cerimônia, fez questão de citar um santo cigano (espanhol), Zeferino Gimenez (1861-1936), mártir, fuzilado pelos republicanos durante a Guerra Civil espanhola por assumir a defesa de um sacerdote injustamente perseguido. É ainda pouco conhecido pelos brasileiros. Zeferino Gimenez é o padroeiro da Pastoral dos Nômades.
Além de suas funções estritamente sacerdotais, Pe. Pierozan prestou serviços à Nação, especialmente no Ministério da Justiça (questões referentes ao nomadismo e direitos humanos), e no Ministério da Cultura (membro da Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural).
Esse fato significa um amadurecimento da Igreja do Brasil, no sentido da inculturação de uma fé que não se prende a uma nação, cultura ou etnia. Qualquer sociólogo, antropólogo, filósofo ou teólogo há de perceber essa dimensão universalista da Igreja, em cumprimento a uma ordem do próprio Cristo para levar a sua mensagem até os confins da terra (Mt 28,19; Mc 16,15).
Desejamos um frutuoso trabalho a Dom Jorge Pierovan, em São Paulo e nos outros locais em que for chamado para exercer a sua missão de vanguarda pastoral, sempre irmão sobretudo dos ciganos, circenses, nômades e parquistas.
(*) Domingos Zamagna é jornalista profissional e professor de Filosofia.