Neste semestre comemoramos três centenários de nascimento: Padre Henrique Cláudio de Lima Vaz, SJ (24/8); Dom Frei Paulo Evaristo Arns, OFM (14/9), e Prof. Paulo Freire (19/9).
Personalidades muito diferentes e ao mesmo tempo bem próximas. Nascidos em regiões tão distantes (Minas Gerais, Santa Catarina e Pernambuco), a Providência Divina os aproximou: os três se conheceram, foram amigos, trabalharam pelos mesmos ideais e lutaram pelas mesmas causas, no grêmio da mesma Igreja.
Foram apaixonados pela vida, pela humanidade, pelo povo brasileiro, pela Igreja, que lhes abriu os olhos e o coração para o conhecimento e amor ao Evangelho de Jesus Cristo.
Não é fácil encontrar uma tríade tão antenada, tão imersa na realidade e tão aberta aos valores que sedimentam uma civilização, a civilização da solidariedade.
Nossos três luminosos exemplos de vida, finíssimos intelectuais, colocaram sua inteligência a serviço do conhecimento, da educação e da cultura de nosso país; souberam cercar-se de colaboradores com os quais formaram equipes de luta pelos direitos humanos; alimentados pelo II Concílio do Vaticano, tiveram a lucidez de se aliarem para a
escolha de urgências sociais e pastorais; cidadãos do mundo, jamais se desviaram do compromisso e cuidado com os pobres; robustecidos pela Graça, souberam tomar distância das instâncias de poder que perpetuam a desigualdade social; inventivos, criaram metodologias inovadoras na filosofia, na teologia pastoral e na pedagogia.
Embora seus méritos sejam reconhecidos pelo mundo da competência (institutos, universidades, Conselho Mundial das Igrejas, ONU, governos democráticos etc.), o brilho das láureas não lhes subiu à cabeça; ao contrário, deu-lhes cada vez mais a convicção de que é pelo trabalho, pela humildade, simplicidade, austeridade e amor à justiça e à paz que um ser humano se realiza.
A fidelidade aos seus ideais, suas atividades éticas e transparentes, porém, não lhes pouparam a perseguição, as calúnias, difamações, incompreensões etc. Quase sempre é o preço que se paga pela coerência de vida. Tais atribulações costumam vir de quem, a partir de lugares de conforto e segurança, não tem empatia para com as agruras dos humilhados e ofendidos da terra.
Mas deram o testemunho de uma chama que, à luz das bem-aventuranças evangélicas, quando nos aquece a alma e nos dispõe para o serviço, jamais perderá a intensidade e o brilho, pelo contágio da justiça e da solidariedade.
Domingos Zamagna - Jornalista, professor de Filosofia, membro da Academia Cristã de Letras