Geraldo Nunes
Em nossa série de postagens sobre os 100 Anos do Rádio no Brasil, é preciso contar que até o início da década de 1930, apenas 21 emissoras funcionavam no Brasil, todas elas levando ao ar programas de cunho educativo e música erudita.
O início da mudança para uma programação mais próxima do público em geral, começou em 1928, quando em São Paulo, o dono de uma loja de discos chamada Record, chamado Álvaro Liberato de Macedo, visitou os Estados Unidos e trouxe de lá, um transmissor de ondas sonoras em AM de 500 kWs.
A loja se localizava na Praça da República, n°17 e o transmissor foi comprado para divulgar os discos colocados a venda na loja, cujas músicas eram apresentadas durante a programação da estação de rádio.Passado algum tempo, em 13 de junho de 1931, Álvaro de Macedo vendeu sua rádio a Paulo Machado de Carvalho por 25 contos de réis.
Nesta época, São Paulo exigia nas ruas do então presidente Getúlio Vargas, a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e o primeiro passo da revolta foi dado pelos estudantes da faculdade de Direito do Largo São Francisco.
No início da noite de 23 de maio de 1932, os estudantes invadiram o estúdio da Rádio Record e exigiram que se colocasse no ar a leitura de um abaixo-assinado que pedia mudanças na situação política do País.
O locutor presente naquela noite era Nicolau Tuma e a marcha escolhida para fundo musical, Paris Belfort, aconteceu por decisão aleatória do técnico de som. Após a autorização do dono da rádio, foi lido o manifesto e, dali em diante, a Rádio Record se transformou na “Voz de São Paulo”, durante a Revolução Constitucionalista.
Estes acontecimentos levaram Getúlio Vargas a reforçar sua percepção sobre a importância do rádio como veículo de comunicação, visto que, por um decreto-lei, autorizou a introdução de anúncios comerciais durante a programação das emissoras.
Com a inclusão desta novidade, as estações puderam contratar artistas e apresentar programas variados, mais próximos do grande público. Outro fato importante para a popularização do rádio, aconteceu em 12 de setembro de 1936, dia em que foi ao ar pela primeira vez, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Surgida inicialmente como empresa privada, a Nacional acabou sendo encampada por determinação de Getúlio, em 8 de março de 1940, para ser transformada na emissora oficial do governo brasileiro. Com potentes transmissores capazes de alcançar todas as regiões do país, a Rádio Nacional se tornou mais conhecida em sua época de ouro que qualquer outra emissora de TV aberta dos tempos atuais.
A Nacional possuía em seu elenco, o que havia de melhor entre músicos, cantores e cantoras, além de atores e rádio atrizes, que deram início ao que se chamou mais tarde de Fase de Ouro do Rádio Brasileiro.
Foi também a emissora pioneira na introdução do radiojornalismo, ao incluir na programação, a partir da II Guerra Mundial, o Repórter Esso com notícias do Brasil e do mundo, lidas de hora em hora.Terminada a guerra, o Repórter Esso permaneceu no ar até 1968 sempre com o slogan: “A testemunha ocular da história”.
Entre os apresentadores, no Rio de Janeiro, destacam-se os nomes de Heron Domingues e César Ladeira, além das vozes de Dalmácio Jordão e Lívio Carneiro, no rádio paulista, entre outros. Tanto a Rádio Nacional quanto a Rádio Record seguem no ar transmitindo em AM para todo Brasil. No Rio de Janeiro, a Nacional opera na frequência de 1.130 kHz e a paulistana Record, segue firme nos 1.000 kHz. Essas rádios possuem páginas na internet e podem ser sintonizadas por aplicativos disponíveis no Play Store de cada aparelho celular.
Geraldo Nunes, jornalista e escritor, é titular da cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL