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  • Fonte: J.B. de Oliveira

38 João Baptista de Oliveira 91e11Que raio de expressão estapafúrdia é essa?

Alguém já ouviu falar de “gato de caça”? Claro que não.

Mas de “cão de caça”, com toda certeza sim. Há até subespécies: perdigueiro, paqueiro, veadeiro etc.

E o que faz um cão de caça? Ajuda o caçador a desempenhar sua tarefa, ora “levantando” a caça – isto é, localizando onde ela se encontra, ora “empurrando” o animal em direção ao caçador, ora “encantoando-o” em local que facilite sua captura ou abate. Gato faz isso?

Outra característica do cão é que ele normalmente anda e caça em grupo, em matilha. Ele é um animal de atos solidários. Já o manhoso gato, não. Anda sozinho, caça sozinho; tem hábitos solitários. Além disso, é preguiçoso demais para sair por aí correndo atrás de outros animais para satisfazer a vontade do animal homem...

Estudos feitos sobre esses bichos revelam diferenças ainda mais interessantes. Por exemplo, é muito comum – na ocorrência de assaltos, roubos ou outro tipo de violência contra pessoas –, observar que o cão, na defesa destemida de seu dono, chega até a morte, sacrifica sua própria vida! Alguém tem registro de algum gato ter feito isso em algum lugar, em alguma época da história? Eu, pelo menos, não. Ao contrário: quando há algum perigo rondando o local, o felino é o primeiro a fugir... de mansinho, pra não chamar atenção!

A tradicional brincadeira de atirar um pedaço de pau ou outro objeto qualquer para o animal ir buscar só funciona com o cão, que sai em desabalada carreira, vai até onde a peça foi atirada, toma-a entre seus dentes e a traz fielmente a quem a atirou...

E o gato? No máximo dará uma olhada de superior desprezo, como se estivesse pensando: “Que coisa mais estúpida! O que esse idiota imagina que eu vá fazer? Expor-me ao ridículo – e ao desconforto e cansaço – de buscar aquele pedaço de madeira? Pois sim...”!

Há mais: ao retorno de seu dono, o cão vai encontrá-lo fazendo festa, abanando o rabo em sinal de alegria. Já o felino “fica na sua”: comodamente refestelado em seu “berço esplêndido”, espera que seu dono – mais provavelmente, dona – venha pegá-lo no colo e fazer-lhe afagos... Aliás, que ninguém se engane: é bom saber que o gato, quando fica aninhando, se encostando, roçando amável e dengosamente em nós, não está nos acariciando, mas acariciando-se em nós!

– Bem, e depois de tudo isso, como é que fica a tal expressão “Quem não tem cão caça com gato”?

– Fica sem sentido, porque está demonstrado que ninguém pode caçar com um gato, egoísta por natureza. Ele só caça ratos. E pra si próprio e mais ninguém!

– E então?!

– Então é necessário que procedamos ao “resgate histórico” da frase original, que tem nexo, e que é:

“QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COMO GATO”!

Agora sim, a coisa passa a ter sentido: se alguém não pode contar com o valioso concurso de um cão, só lhe resta caçar sozinho, porque outro animal não poderá desempenhar essa função. Menos ainda o gato – egoísta, manhoso e preguiçoso – como demonstrado linhas acima!