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  • Fonte: Jornal de Jundiaí - 13/10/24 - José Renato nalini

Algo simples de se fazer e de imenso alcance econômico, ambiental e social, é criar hortas comunitárias nas cidades. Elas existem, mas ainda são poucas diante do benefício que delas resulta. São consideradas plataformas integradoras, que incentivam a autonomia, o autocuidado, a participação social e o engajamento da população em adotar soluções baseadas na natureza. Isso é de fundamental importância numa era em que as emergências climáticas estão lembrando ao bicho-homem que ele é apenas um elo na cadeia existencial do planeta. Um planeta que pode viver muito bem sem a espécie humana e que está mostrando isso de maneira bem explicita ao premiar a humanidade com fenômenos climáticos extremos.

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Os Prefeitos, vereadores, líderes comunitários e pessoas sensíveis e de boa vontade precisam ler o livro “Hortas Comunitárias Urbanas: promovendo a saúde e a segurança alimentar e nutricional nas cidades”. É uma obra organizada por Cláudia Maria Bógus e Denise Eugenia Pereira Coelho, ambas da Faculdade de Saúde Pública da USP, e Mariana Tarricone Garcia, do Instituto de Saúde. O livro pode ser baixado gratuitamente na internet.

Essa publicação integra a coleção “Temas em Saúde Coletiva” do Instituto de Saúde e é dividido em quatro partes: Fundamentos teóricos dos campos da Promoção da Saúde, da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e da Agroecologia; Sistemas e ambientes alimentares no contexto urbano; A agricultura urbana e suas articulações com agendas contemporâneas e políticas públicas; e Relatos de experiências em hortas urbanas.

Bem interessante a reflexão sobre a desconexão crescente entre os indivíduos, os alimentos e o ato de comer, resultado da industrialização e padronização dos alimentos. Antigamente, as mães eram cozinheiras que caprichavam no preparo da alimentação de sua prole. Os ganhos com a Revolução Feminina, que Miguel Reale considera a maior conquista do século XX, foram de certa forma prejudicados com o afastamento da mulher da cozinha doméstica. Uma espécie de resgate desse patrimônio está na formação de hortas urbanas. Constituem espaços relevantes para restaurar a conexão interrompida e aptas a promover práticas alimentares saudáveis e sustentáveis.

Além disso, oferecem uma valiosa oportunidade para a aprendizagem coletiva sobre cultivo e alimentação. Ao mesmo tempo, prestigiam o trabalho agrícola, que sofreu esvaziamento com o processo de intensa urbanização. São práticas salutares que envolvem a questão ambiental, alimentar, dietética e a cooperação de equipes que aprendem a respeitar a terra e o que ela representa para a qualidade de vida.

As hortas comunitárias representam um espaço ecológico prenhe de oportunidades. Recuperam o cultivo de hortaliças e de ervas medicinais que ficaram esquecidas, lembram a mais valia de produtos orgânicos, produzidos de forma sustentável e respeitadora da biodiversidade.

Uma cidade que possui hortas comunitárias passa a ostentar um convívio cordial, polido e até fraterno entre pessoas que, antes disso, mal se cumprimentavam. Atuam como verdadeiros espaços hígidos de infiltração da água, contribuem para a valorização desse líquido e para disseminar o amor pela natureza.

Quem se dedicar à formação de uma horta comunitária colherá muito mais do que verduras, legumes, hortaliças e frutas. Colherá o cultivo da convivência amistosa, o reforço dos laços de pertencimento, a formação de uma promissora prática de cidadania.

No momento em que se esgarçam as relações de vizinhança, em que a nação está polarizada, em que tantas adversidades sugerem o fracasso do projeto humano, as hortas comunitárias podem ser um caminho de esperança para a edificação aquela pátria fraterna, justa e solidária com que todos sonhamos.