Slide
  • Fonte: Flávio A Quilici e Lisandra M Quilici

 foto 1 9accd

 

Juntamente com as mudanças climáticas, a poluição atmosférica é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma das maiores ameaças à saúde humana. Nove em cada dez pessoas no mundo, respiram ar poluído que mata 7 milhões de pessoas a cada ano. Somente no Brasil, são pelo menos 50 mil óbitos por ano. Trata-se de um problema que ultrapassa a questão ambiental há muito tempo, atingindo fortemente a saúde pública.

TIPOS DE POLUIÇÃO DO AR

Poluição do ar não é apenas a poluição que envolve emissão de gases, por meio de atividades industriais e de transporte, denominada de poluição externa. Há ainda a poluição interna, que ocorre dentro dos domicílios. Segundo a OMS, cerca de 2,4 bilhões de pessoas, cozinham em fogueiras ou fogões com vazamentos que funcionam à base de querosene, biomassa (lenha, esterco animal ou resíduos agrícolas) ou carvão, colocando poluentes nocivos no ar de suas casas. No Brasil, muitas famílias de baixa renda, devido ao aumento do custo de vida, estão deixando de usar fogão a gás e estão cozinhando de maneira improvisada, com lenha, cuja combustão é altamente tóxica, sobretudo, em um ambiente pequeno e fechado, fato tão perigoso para a saúde quanto fumar. No caso da poluição externa, classificado como um inimigo silencioso e, na maioria das vezes, ignorado, até que os problemas de saúde comecem a ser diagnosticados.

PADRÕES DE QUALIDADE DO AR

Apesar de existirem padrões de qualidade do ar, não há limites seguros para poluição atmosférica, e sim, limites aceitáveis. Eles são determinados com base em pesquisas científicas realizadas no mundo todo, com os poluentes de referência, como gás carbônico, ozônio e material particulado fino (fuligem emitida por veículos). Elas indicam o padrão de qualidade do ar e se ele representar risco à saúde, necessitará de mudança. Apesar de se tratar de uma diretriz global, o Brasil não segue o padrão de qualidade do ar preconizado pela OMS.

COMO A POLUIÇÃO AFETA A SAÚDE

Os materiais particulados finos, estão entre as maiores preocupações dos especialistas. Eles são muito pequenos (menores que uma célula) e, após inalados, podem penetrar na corrente sanguínea e espalharem-se pelo nosso corpo, liberando substâncias tóxicas, como metais pesados e hidrocarbonetos carcinógenos. Embora o pulmão seja sua porta de entrada no organismo, seus efeitos nocivos não se limitam ao sistema respiratório. Podem ocorrer agressões, como na função renal, sistemas metabólico, imunológico e cardiovascular etc. Há relação, também, com doenças como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e predisposição ao câncer, sobretudo, de pulmão. Existem evidências relacionando a poluição com o agravamento de doenças como o Alzheimer, lúpus e aterosclerose, dependendo da condição de saúde, idade e dose de exposição do individuo.

Além disso, nosso organismo pode armazenar essas substâncias nos ossos e tecido adiposo. No caso de uma gestante que vive em área com alto índice de poluição, a mãe poderá transferir essas substâncias tóxicas para o feto, aonde a mãe tem maior risco de pré-eclâmpsia (complicação gestacional caracterizada por hipertensão arterial e alterações no fígado e rins) e os bebês, têm risco de baixo peso, doenças respiratórias, distúrbios comportamentais e de aprendizado.

PÚBLICO MAIS VULNERÁVEL À POLUIÇÃO

São as crianças, idosos, pessoas com doenças preexistentes e trabalhadores de ambientes externos, como vendedores ambulantes, taxistas e motoboys. Lembrar que um paciente com asma ou problema cardiovascular, tende a sentir mais rapidamente os efeitos da poluição atmosférica do que alguém saudável.

COMO ISSO REFLETE EM TERMOS DE SAÚDE PÚBLICA NO PAÍS?

A necessidade de implementar essas políticas, é porque diminuiria o custo para saúde e de mortes. No entanto, essa questão envolve o enfrentamento de setores como a indústria do transporte e de combustíveis. Embora o impacto de políticas públicas para melhorar a qualidade do ar, seja discutido considerando o custo dessas medidas para esses setores, infelizmente no Brasil, o gasto com saúde pública não é colocado nestas discussões.

COMO CONTROLAR A RESPIRAÇÃO DO AR POLUÍDO 

A maioria das fontes de poluição do ar exterior está fora do controle das pessoas, exigindo a adoção de políticas regionais e nacionais que trabalham em setores como energia, transporte, gestão de resíduos, planejamento urbano e agricultura. No entanto pequenas ações diárias dos indivíduos podem ajudar a gerar menos poluição atmosférica, como é o caso de trocar o carro por caminhadas, transporte público ou uso de bicicletas e evitar grandes deslocamentos diários, especialmente em vias de tráfego intenso. A ingestão de bastante líquido, alimentos ricos em vitamina B e C e a prática de exercícios físicos, também pode ajudar a evitar problemas decorrentes da exposição à poluição. São cinco as recomendações da OMS para limitar a respiração de ar poluído:

  1. Evite andar por ruas movimentadas nas horas de pico. E, se estiver acompanhado de um menor, procure levantá-lo acima do nível dos escapamentos dos veículos.
  2. Evite passar muito tempo em pontos específicos com alta densidade de tráfego, como perto de carros parados em semáforos.
  3. Ao fazer exercícios ao ar livre, procure fazê-lo em áreas menos poluídas.
  4. Evite usar o carro em dias de muita circulação.
  5. Não queime resíduos.

 FRASE DA SEMANA 

Andar é o melhor remédio do homem”

Hipócrates (460-377 a.C.) Pai de Medicina Ocidental

*Flávio Antonio Quilici, médico e escritor, mantém com a filha Lisandra M Quilici, coluna semanal no Correio Popular – Campinas, aqui reproduzida. Ele ocupa a cadeira 04 da Academia Cristã de Letras - ACL