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  • Fonte: Frances de Azevedo - Março/2021

O que é ser Poeta? O que é o Poeta?

Questões que se colocam e nem sempre são respondidas, ou, se respondidas, não dão a dimensão do ser Poeta.Frances de Azevedo 1 25820

Costumo me valer da expressão Fit Orator, Nascitur Poeta: O Orador se faz. O Poeta nasce.

Há um profundo significado neste último, porquanto é da essência do ser Poeta esse dom natural, essa sensibilidade diferenciada, diante da interpretação de fatos, acontecimentos do cotidiano, da natureza, enfim, de enxergar o mundo sob um olhar personalíssimo. Não é fácil falar desse sentimento único!

Ser Poeta é transcender a própria existência. É mesclar fatos circundantes com os próprios sentimentos. Estes guardados a sete chaves; bem lá dentro do peito que, num repente, explodem em palavras ordenadas/coordenadas, sob a batuta da inspiração! Vão sendo construídas como se fosse a edificação de um prédio de alvenaria! Cada palavra, cimentada, unida, por sutis sentimentos, emerge num passe de mágica: A mágica da inspiração! Inspiração que é o pensamento que vem do espirito, do coração, da alma!

Quando me perguntam qual é o meu Poeta preferido, quedo-me silente, por alguns instantes, pois não me vejo apontando o dedo para esse ou aquele, eis que respeito, ou melhor, compreendo cada um na sua essência como ser Poeta.

Cada Poeta tem seu próprio universo, sua característica, seu modus operandi, seu retrato expresso no seu modo de poetar, de tal sorte que, quando se ouve ou se depara com um poema, neste está impresso o nome do vate que o compôs!

Tanto que, muitas e muitas vezes, ouve-se alguém declamar uma poesia e, imediatamente, identificamos seu autor, pois sua assinatura poética está expressa naquela!

Certamente que nos identificamos com um ou outro Poeta. É uma questão pessoal que pode ser derivada pelo tema, pela forma, pela estética, de cada autor É algo que, para mim, interpreto como sua marca registrada, tal como qualquer artista das artes plásticas que é identificado/conhecido por suas obras.

Quem são os três “Cs” da Poesia adiante nominados?

São eles: Castro Alves, Casimiro de Abreu e Cassiano Ricardo.

Dos três, me identifico com Castro Alves: O Poeta dos Escravos. Poeta que morreu jovem e que foi por mim escolhido como Patrono da Cadeira 8, na Academia Linense de Letras onde, hoje, a meu pedido, sou membro remido.

Castro Alves, que nasceu Antonio Frederico de Castro Alves, em Cabaceiras, Bahia, numa fazenda, aos 14 de Março de 1847, teve quatro irmãos, sendo o segundo da família formada pelo pai, médico, Antônio José Alves, a mãe Clélia Brasília da Silva Castro, o irmão mais velho José Antônio e as irmãs: Elisa, Adelaide e Amélia. Seu irmão o apelidou Cecéu. Passou seus primeiros anos na fazenda, nos folguedos de criança, ao lado dos irmãos e de um filho de uma ama.

Em 1854, todos foram residir em Salvador, na chácara da Boa Vista, pois seu pai fora convidado para dar aula na Faculdade de Medicina.

Fez seus estudos, juntamente com seu irmão, no Colégio Sebrão e depois no Ginásio Baiano, tendo este implantado o estudo seriado, onde, no primeiro ano, várias matérias eram ensinadas ao mesmo tempo. Depois, nos anos vindouros iam se aprofundando em cada uma. Assim, desde cedo, Castro Alves estudou história, francês, inglês, filosofia. Não gostava de matemática. Vivia lendo e escrevendo versos. Seu livro preferido era a antologia dos poetas franceses, de Charles André, sendo seu preferido Victor Hugo.

Foi nessa chácara que teve contato pela primeira vez com uma senzala, fato que o marcou para a vida inteira.

Em 1860, com treze anos, declamou pela primeira vez. Já não mais tinha sua mãe e sua ama. Seu pai casa-se pela segunda vez em Janeiro de 1862, ano em que embarcou com seu irmão para Recife, para os exames de ingresso na Faculdade de Direito. Todavia, era relapso nos estudos: passava os dias fumando, lendo poesia, deitado numa rede, divagando...

Contudo, após cinco meses (23 de Junho de 1869) de sua chegada em Recife, publica seu poema A Destruição de Jerusalém no Jornal do Recife.

Uma curiosidade à época era o Teatro Santa Isabel onde jovens que assistiam ao espetáculo, dos balcões, declamavam elogios às suas intérpretes favoritas, sendo observados por binóculos da alta sociedade! Foi nesse local que conheceu a artista Eugênia Câmara por quem ficou perdidamente apaixonado.

Ele tinha 16 anos.

Em março de 1864, ingressa na Faculdade de Direito, ainda abalado com a morte de seu irmão. Não se preocupava com os estudos. Preferia as conversas, discussões.

Cassimiro José Marques de Abreu foi um poeta brasileiro da segunda geração do romantismo. Filho do fazendeiro português, José Joaquim Marques de Abreu e Luísa Joaquina das Neves, uma fazendeira de Barra de São João, viúva do primeiro casamento. Wikipédia.

Nasceu em quatro de janeiro de 1839. Faleceu aos 21 anos, de tuberculose, em 18 de outubro de 1860, em Nova Friburgo, rio de Rio de Janeiro.

Obras: Meus Oito anos, As primaveras, Desejos, Dores, Infância...

Cassiano Ricardo Leite foi um jornalista, poeta e ensaísta representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta, foi o fundador do Wikipédia. Nasceu em 26 de julho de 1895, Brasil. Faleceu em 14 de Janeiro de 1974 no Rio de Janeiro. Obras: Martim Cererê: o Brasil dos Meninos, dos Poetas e dos Heróis; Vamos caçar Papagaios, Uiara.

Há, certamente, inúmeros poetas cujos nomes iniciam com a letra C, não só aqui em nosso país, como fora. Porém, neste artigo, quis homenagear aquele que é dos escravos: O Poeta! Aquele que me inspirou o poema que leva seu nome: CASTRO ALVES, publicada em meus livros: Apenas Mais Alguns Versos, Trovas e Outras Palavras, de 2007, págs. 76/77 e O Quinto Uni... Verso (poemas), de 2011, págs. 62/63, ambos da Editora Ar-Wak. Poesia essa premiada em quarto lugar no segundo Concurso de Poesia da Casa do Poeta Maçom do Brasil, em Nov/2004, com a qual encerro estas breves considerações:

CASTRO ALVES

Quem da pena se escravizou

Para sobre os cativos contarcastro alves 50e9c

De suas saudades infindas

Sobre o torrão além-mar,

Onde o vento corria livre

Sem correntes para amarrar?!

 

Quem da pena se escravizou

Chorando a dor do filho nascido

Que a mãe o tivera do algoz

Quando servia na casa grande e bela

E pela vida afora seria só dela

E seguiria numa caminhada atroz?!

 

Quem da pena se escravizou

Para do pranto derramado

Cobrindo o chão da senzala

Nas noites tenebrosas dos gemidos

Extrair dos ferros dolorosos ruídos

A embalar sono que libertação exala?!

 

Quem da pena se escravizou

Para perguntar à Mãe - África

Por que seus filhos abandonara

Em terra amarga, distante,

Condenando-os a exílio eterno

Transformando suas vidas num inferno?!

 

Quem da pena se escravizou

Para de o pelourinho ver o sangue

Onde muitas vezes exangue

Ainda o cativo ao seu deus orava

E pelo impossível milagre esperava

Na terra do criador esquecida?!

 

Quem da pena se escravizou

Senão aquele que é dos escravos, O Poeta,

Cuja alma livre podia, de verdade,

Levar o sonho da liberdade

Àqueles que, dos açoites do feitor,

Só podiam sentir dor!

 

Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL