No próximo dia 13 de outubro, em Roma, o Papa Francisco canonizará a Irmã Dulce dos Pobres, ou o Anjo Bom da Bahia, como a religiosa passou a ser conhecida pelos brasileiros e, agora, pelos católicos do nundo inteiro. Seu nome civil era Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, nascida em Salvador, aos 28 de maio de 1914, e falecida na mesma cidade, aos 13 de março de 1992, aos 77 anos de idade, 59 dos quais religiosa professa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.
Filha de uma dona de casa e de um dentista (professor na Universidade Federal da Bahia), desde criança se preocupou com a situação de pobreza de seus vizinhos. E essa foi a tônica da sua vida: o amor aos pobres.
Sua formação e profissão leiga era a de professora primária, mas logo após a formatura sentiu-se chamada para responder a outra vocação, a vocação do serviço ao próximo. Foi essa a sua única paixão, o amor que a levou à vida religiosa para consagrar-se totalmente ao amparo aos necessitados, num grau tão elevado que fez dela, ainda em vida, uma unanimidade na apreciação dos baianos e brasileiros. Aliás, ninguém é santo depois da morte: quem é santo, é santo em vida. O reconhecimento oficial vem após a morte. Mas santidade é explosão de vida, de vida evangélica, expressa pelo amor aos pobres. O trabalho de Irmã Dulce pelos e com os pobres levou-a a motivar e evangelizar também as famílias ricas; ninguém se recusava a colaborar com suas muitas obras sociais, tal a credibilidade e o acerto de sua atividade humanística e pastoral.
Devemos ter orgulho da emergência em nossa terra de uma criatura ao mesmo tempo tão frágil corporalmente e moralmente tão forte na prática do bem. Esse fato histórico bem pode nos inspirar e ajudar a melhorar os nossos dias, quando vemos tanta disseminação de ódios, discriminações, intolerâncias, inverdades e vaidades.
Apesar de ter recebido tantos reconhecimentos, inclusive a indicação para Prêmio Nobel da Paz em 1988, a nova santa nunca alterou seu compromisso básico, discreta, humílima, servidora. Mas a Bahia quis perenizar sua memória, tanto que em 2014 o governo do Estado instituiu o dia 13 de agosto como o Dia Estadual em Memória à Bem Aventurada Dulce dos Pobres.
Em 2011 Irmã Dulce foi declarada Beata pelo Papa Bento XVI. E em julho de 2019 coube ao Papa Francisco concluir o seu processo de canonização e anunciá-la como a primeira mulher brasileira nata a ser inscrita no Livro dos Santos da Igreja Católica.
Em 2014 foi lançado um filme biográfico sobre Irmã Dulce, narrando sua vida de amor a Deus e ao próximo e seu protagonismo social. Vale a pena ser visto ou revisto, como homenagem a esta maravilhosa brasileira e, para os católicos, como preparação para a celebração de sua canonização.
Domingos Zamagna é Jornalista e professor de Filosofia, membro da Academia Cristã de Letras.