(Este antigo lugarejo foi anexado a um município maior na revolução dos mascates).
João Frutuoso foi eleito prefeito de Ytaviagra, sem fazer maioria na Câmara. Então um poderoso Manda-Chuva do lugar o aconselhou ir conversar com o Zito Bodoque, antigo vereador e novamente reeleito, mas na chapa contrária. Bodoque aceitou ajudá-lo, assim, de graça, pelo bem da cidade. Frutuoso ficou feliz. E escolheu Bodoque seu porta-voz no Legislativo. Em um mês o prefeito conseguiu o apoio de quase todos os nobres vereadores. Zito Bodoque não brincava em serviço. Era useiro e vezeiro na arte da política. Afinal estava no jogo fazia uma vida. A única coisinha que pediu ao prefeito foi a nomeação do compadre chefe do departamento de aprovação de loteamentos.
Quatro anos depois nova eleição e Frutuoso foi reeleito. Desta vez com maioria esmagadora. E Zito Bodoque foi um dos mais votados. Na eleição seguinte, Frutuoso indicou Macieira seu sucessor e, com resultado apertado, o seu candidato venceu. A oposição denunciou muitos abusos, como loteamentos sem infraestrutura aprovados as dúzias em Ytaviagra. Pra variar, Bodoque continuou na Câmara. Até que na outra eleição finalmente a oposição chegou ao Poder. O povo respirou aliviado. O candidato Grilo Falante assumiu o governo prometendo mudança de hábito. Detalhe: ele não fez maioria na Câmara. Entretanto, o problema foi logo resolvido seguindo o modelo da velha cartilha. Para isso Zito Bodoque estava lá. E ajeitou os pauzinhos. Trouxe quase todo mundo para apoiar o Grilo. Em troca de uns carguinhos. Conta a lenda que Frutuoso e Macieira tiveram dor de cabeça com a Lei. Já o decano dos edis escapou ileso, fagueiro, leve e solto, igual lebre correndo no campo. Simples, assim. Ele não punha a mão em cumbuca.
As más línguas diziam que ele ficava com um ou dois lotinhos, cada vez que um loteamento era aprovado. Vá saber. Esse povo fala demais. Vai ver ele pagava um precinho simbólico. Sempre existe um plano VIP.
Em Ytaviagra acontecia cada coisa...
Lázaro Piunti