O novo papa é o sinal visível da unidade da fé católica. E isso, em tempos sombrios, é um clarão de esperança
No dia 8 de maio, comovido como milhões de pessoas ao redor do mundo, acompanhei a primeira aparição do papa Leão XIV na sacada da Basílica de São Pedro. O novo papa, visivelmente emocionado, transmitia uma imagem serena de proximidade, mansidão e autoridade espiritual. Era como se dissesse, sem palavras, que Pedro está entre nós.
Sua bênção foi a confirmação de uma certeza que atravessa séculos: a Igreja é viva, porque é conduzida por Cristo. A explosão de alegria que tomou conta da multidão foi uma belíssima manifestação da força do Espírito Santo que vivifica a Igreja. O novo papa é o sinal visível da unidade da fé católica. E isso, em tempos sombrios, é um clarão de esperança.
Aquele urbi et orbi não foi apenas uma fórmula litúrgica. Foi um anúncio de paz para um mundo machucado por guerras, divisões e relativismos. Num tempo marcado pela perda de referências morais e pela banalização do mal, a presença de Pedro no coração da cristandade é um farol. O papa, com seu testemunho humilde e firme, recorda que a Igreja não se curva diante das ideologias passageiras. Ela não é nossa. É de Cristo.
Poucos dias antes, Roma vestiu-se de luto com a morte do papa Francisco. A cidade eterna silenciou. Milhares de fiéis caminharam até a Basílica para rezar diante do corpo do pontífice falecido. O clima era de dor, sim, mas também de confiança. A barca de Pedro não está à deriva. Ela continua navegando, conduzida pelas mãos firmes do Redentor. A sucessão apostólica é um mistério que transcende a lógica humana. A ausência física do papa foi preenchida pela fé do povo e pela certeza de que Cristo não abandona sua Igreja.
Leão XIV, um nome que evoca autoridade e luz, apresentou-se ao mundo com simplicidade evangélica. Em sua primeira mensagem, tocou corações ao afirmar com clareza: “A Igreja não é nossa, é de Cristo. E a Ele devemos fidelidade, sempre.” O novo papa não é um político, nem um gestor. É um pastor. Um pai. Um homem de oração e cultura, consciente de sua missão: confirmar os irmãos na fé e conduzir a Igreja com mansidão e firmeza.
Na Praça de São Pedro, em sua saudação inicial, pronunciou 10 vezes a palavra “paz”. Uma paz desarmada, humilde, perseverante. “Que a paz esteja convosco”, disse, repetindo as palavras do Cristo ressuscitado. Uma paz que vem de Deus e que o papa deseja ver presente em todas as famílias, nas comunidades e nas nações. Não uma paz retórica, mas concreta. Uma paz que nasce do coração reconciliado com Deus, que constrói pontes, dialoga, escuta e acolhe. Uma paz que cura.
Leão XIV delineou, com palavras simples e profundas, a missão de seu pontificado: uma Igreja que caminha, que busca a caridade, que se mantém próxima, especialmente, aos que sofrem. Uma Igreja que não teme os desafios do tempo, mas responde a eles com fé e esperança.
Diante de cerca de 6.000 jornalistas de todo o mundo, o novo papa fez uma vibrante defesa da liberdade de imprensa. Reafirmou o valor do jornalismo como instrumento de justiça, paz e dignidade humana. Em tempos de censura disfarçada, e manipulação ideológica, foi direto: apenas sociedades bem informadas podem fazer escolhas livres.
Sua fala aos jornalistas foi um verdadeiro manifesto a favor da verdade. Alertou sobre os riscos da desinformação, do uso irresponsável da inteligência artificial e dos discursos agressivos que fomentam o ódio. Pediu uma comunicação que ouça os marginalizados e que seja instrumento de reconciliação. O papa mostrou-se atento às novas realidades do mundo digital, mas com a sabedoria de quem sabe que nenhuma tecnologia pode substituir a ética, a verdade e o respeito pela dignidade humana.
A cena do novo pontífice emocionado, saudando o povo com gestos simples e palavras de fé, é um contraponto eloquente à frieza tecnocrática e ao cinismo político que invadem tantos espaços. Sua autoridade não vem da força. Vem da coerência. Da fidelidade ao Evangelho. Do amor à Igreja.
Os primeiros gestos de Leão XIV apontam para um pontificado centrado em Cristo, ancorado na tradição e aberto ao diálogo com o mundo contemporâneo. Uma liderança espiritual em tempos de tempestade. A barca de Pedro permanece firme. Porque sua âncora é o próprio Cristo.
Enquanto impérios ruíram e ideologias caducaram, a Igreja permaneceu. Onde estão os sucessores de César? Onde estão os sistemas políticos que prometeram enterrar a fé? Ficaram nos livros de História. A Igreja, sem armas, sem capital, é hoje a instituição mais antiga, mais globalizada e, paradoxalmente, uma das mais respeitadas do planeta. Porque não é obra humana. É divina.
Que o novo papa, sob a inspiração do Espírito Santo, seja instrumento de unidade, de paz e de conversão. Que sua palavra, firme e doce, alcance os corações endurecidos. Que sua missão frutifique em santidade.
Como escreveu São Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei, diante do panorama de Roma: “Oh, como brilhas, Roma! Como resplandeces daqui, com um panorama esplêndido, com tantos monumentos maravilhosos da antiguidade. Mas tua joia mais nobre e mais pura é o Vigário de Cristo, do qual te glorias como cidade única.” Pedro vive. E isso basta.
Carlos Alberto Di Franco, jornalista, ocupa a cadeira 14 na Academia Cristã de Letras – ACL e mantém coluna quinzenal em O Estado de S. Paulo, aqui reproduzida