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  • Fonte: Raquel Naveira

 Lançado o CD CABEZA DE VACA-ANDARILHO DAS AMÉRICAS, idealizado e produzido por Moacir Lacerda, líder do Grupo ACABA: cantadores do Pantanal.

Trata-se de um musical , com vinte e duas faixas em parceria com convidados, entre artistas, poetas e instrumentistas, como Ana Lúcia Gaborim, Aurélio Miranda, Gilson Espíndola, Luiz Alberto Sayd, Marcos Assunção, Pedro Ortale, Marcelo Fernandes, Tetê Espíndola e outros.

Trata-se da história fantástica de Dom Álvar Nuñes Cabeza de Vaca (1490-1559), o explorador espanhol que primeiro pisou as terras do Pantanal, chamando-o de Mar de Xaraiés.

Seguem poemas de Raquel Naveira, de seu ROMANCEIRO DE CABEZA DE VACA: O ANDARILHO DAS AMÉRICAS (Rio de Janeiro: Íbis Libris), que serviram de base e inspiração para várias dessas composições.

MOTIVOS

Que motivos me levaram
A uma vida de aventuras
E façanhas?
A sair da Espanha,
Percorrer todo o globo,
Observando,
Tomando notas,
Resistindo à natureza
Com as forças de minhas entranhas?

Tinha bons equipamentos:
Navios,
Pólvora,
Canhões
E vontade de vencer,
Ansiedade pelo novo,
Confiança,
Como um fruto que se apanha.

Ventos sopraram na primavera
E me levaram,
Depois, no outono,
Trouxeram-me de volta
Ao porto do sono,
Aos sonhos de conquista.

Que motivos me levaram
A romper caminhos,
A travar contato
Com grandes civilizações
E povos selvagens,
Confusos e absortos?

Terá sido avidez por fama?
Leitura de romances de cavalaria?
Sede de combate?
Encantamento por monstros
E terras estranhas?

Não sei...
Sou apenas um homem de ação,
Um homem do meu tempo,
Um místico cristão,
Um profeta
Com sede de expansão
De mim mesmo,
De minha mente,
Orientado pela visão de céu,
De mar,
Que sempre me acompanha.

CÂNION

Na ravina,
Cabeza de Vaca
Vê a vala:
O rio cortou rochas,
Formou canais,
O vento embala os penhascos,
Raios de sol
Pintam de mil cores
Os arcos e as montanhas;
Chuvas desceram as escarpas,
Lamas amolecidas
E róseas
Grudaram nas falésias
Como opalas;
Mãos invisíveis
Acariciam a areia
Que se acetina.

Foi sua sina,
Prêmio por sua coragem
E disciplina:
A paisagem do cânion
Impregnou
Sua retina.

MARIA MARMOLEJO

Sou Maria Marmolejo,
Conheci Álvar,
O cavalheiro.
Casamos na igreja
Do vilarejo.

Tempos depois, ele partiu,
Num navio de velas brancas,
Deixando-me só,
Com meu desejo.
Meu viver não tem mais cura,
Ele sonhava com ouro,
Aventura
E eu de febre latejo.

Nada me consola
Nesse silêncio sem futuro.
Na secura
De um útero vazio,
Lacrimejo.

Partiu...
O vento era benfazejo
Para a travessia.
Fico no cais, noite e dia.
Sou Maria Marmolejo.