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  • Fonte: Gabriel Kwak*

De uma geração de notáveis mulheres jornalistas, como Dulce Damasceno de Brito, Maria Aparecida Saad e Lenita Miranda de Figueiredo, LIBA FRYDMAN, se viva fosse, completaria 95 anos neste mês de outubro. Nome exponencial do jornalismo de variedades, era conhecida pela sua discrição na resenha de acontecimentos do mundo da TV, rádio, do disco, além de “gossips” sobre os famosos.

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Natural da Polônia, veio para o Brasil com dois anos. Benquista no meio artístico, foi repórter pioneira da televisão brasileira. Acompanhou os primórdios da teledramaturgia. Era pupila do editor brasileiro de origem bessarabiana Jacó Guinsburg. Em 1951, ajudou na direção do longa-metragem O Saci, de Rodolfo Nanni.

Com seu conhecido tirocínio, atuou nas revistas “Radiolândia”, “Sete Dias na TV”, “Amiga”, nos Diários Associados, na “City News” e colunista e crítica de TV do jornal “Shopping News” e um sem-número de ‘freelances’, como sói acontecer na vida do jornalista. Foi assessora de comunicação das emissoras Record e Manchete e do departamento de divulgação da TV Bandeirantes.

Com o advento madrasto da ditadura militar, acabou demitida da TV Excelsior. Também foi vítima de preconceito por ser divorciada.

Em 1973, Liba Frydman entrevistou seu amigo Adoniran Barbosa, o lendário sambista e ator, quando este foi confirmado no elenco da telenovela “Mulheres de Areia”, da Tupi. O pingue-pongue foi transformado num completo “press-release” que correu as redações dos diversos veículos, o que fez repercutir bastante a notícia da participação do autor de “Saudosa Maloca” na trama de Ivani Ribeiro. A entrevista foi reproduzida na íntegra pelo jornal “Última Hora”. Aliás, os melhores perfis e entrevistas de Ivani Ribeiro foram feitos por Liba.

Foi integrante da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), desde a fundação da entidade (jurada da premiação anual da APCA na categoria Televisão e também em Rádio). O crítico de TV e jornalista Mauro Gianfrancesco, falecido em 2020, foi seu discípulo.

No fim dos anos 80, Liba assessorou a secretária do Menor do Estado de São Paulo, Alda Marco Antônio.

“Havia e sempre houve [jornalistas achacadores e pessoas chantagistas], [mas] eu sempre pude trabalhar como eu queria. Nunca fiz nenhum escândalo com ninguém. Sempre fui querida até por isso. As pessoas iam renovar contrato, eu publicava o valor delas, e o contrato ia melhor”, declarou, em seu depoimento ao Museu da Pró-TV (Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira).

Liba teria elaborado algumas notas em que pretendia contar a história da TV no Brasil sob seu prisma. Não se sabe que fim tiveram esses escritos.

“Ativa e dinâmica, sempre teve dois ou três empregos ao mesmo tempo – aliás, como muitas naqueles idos — e vivia correndo. Mas não dispensava, no que fazia muito bem, um jantarzinho descontraído nas madrugadas da vida, depois da faina diária”, recorda Regina Helena de Paiva Ramos, no seu por todos aspectos excelente livro “Mulheres Jornalistas – A grande invasão” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Faculdade Cásper Líbero, 2010).

“Nunca carteirou pra entrar em lugar nenhum, nunca se fez notar como personalidade da imprensa, sempre trabalhou na sombra, levantando grandes histórias e revelando assuntos de interesse para o leitor, sem fofocas, nem insinuações ou exposição intrometida na vida alheia, respeitando a privacidade pessoal dos entrevistados”, comenta em seu site o colega Maurício Kus.

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“Lutava bravamente pela subsistência (...) e se desesperava, com razão, quando ficava desempregada. Se acontecia, fazia ‘frilas’ adoidada, corria pra lá e pra cá, sempre reclamando, lutando, mas sempre muito digna e profissional. Uma batalhadora”, observa Regina Helena.

Foi casada com o roteirista e diretor de TV, Silas Roberg. Faleceu em decorrência de câncer em 15 de setembro de 2003. Deixou um filho, Sérgio, fotógrafo e publicitário.

A maior homenagem que se pode prestar à pioneira LYBA FRIDMAN é não negligenciarmos a sua memória.

 Gabriel Kwak é jornalista, escritor e membro da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA)