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  • Fonte: Domingos Zamagna (*)

O fim do carnaval proporciona aos cristãos o início de um tempo austero, para profundas reflexões, que chamamos de Quaresma.

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Um dos textos bíblicos propostos para meditação é a passagem que narra as “tentações de Jesus”.

Num deserto sob sol escaldante, Jesus era o homem, de carne e osso, fazendo jejum e abstinência, enfraquecido. Um cenário propício para ser abordado pelas forças que pretendiam levá-lo a desistir de qualquer projeto exigente de amor. Por isso, aquele jovem no início de seu ministério, mediante um sofrimento voluntário, afastou-se das distrações que costumam alienar as pessoas à procura de vida cômoda. Queria manter-se fiel ao desígnio de Deus que aprendera na religião de seus pais, os judeus Maria e José. Mas ele era homem, e os homens passam por tentações. Os evangelhos apresentam a vitória de Jesus sobre o tentador, símbolo do mal, através de narrativas referentes a três tentações:

Na primeira (Mt 4,3; Lc4,3), Jesus não se contenta em repetir a doutrina, não se submete à banalidade do mal, mostrando que o importante é deixar-se guiar pela graça do Pai e não pelas artimanhas do tentador;

Na segunda (Mt 4,6; Lc 4,9b), ensina que não devemos manietar o Criador, instrumentalizar sua Palavra, seu Nome: o evangelho prega a vivência, não a simulação;

- Na terceira (Mt 4,9; Lc4,7), Jesus dá o passo definitivo de sua vida, ou seja, não repete o erro ou a incompletude do judaísmo que, mesmo conhecendo a Javé, chegou a prostrar-se diante de ídolos. Sua vida será sempre adoradora do único Senhor, com o qual se identifica, o Deus da vida, restituidor da esperança, sobretudo para os que mais dele precisam para viver bem, os pecadores, os pobres.

O judeu Jesus leva à plenitude a sua realidade humana, que foi feita para participar da plenitude de Deus. Para além da etnia, Jesus é o irmão universal, solidário com todos, numa tal dimensão que só o podemos conceber, por graça, como Filho de Deus. E passamos a ver a realidade, o mundo, a vida com os olhos de Jesus Cristo, o Homem-Deus.

O ser humano foi de tal modo feito para Deus que Jesus, o Primogênito da Criação, resgatando para todos a humanidade ferida pelo pecado, superou os horizontes do humano, e o projetou para um porvir de plenitude. Na linguagem forte dos Padres Gregos, vencido o tentador, o homem foi “divinizado”.

(*) Jornalista e professor de Filosofia, titular da Cadeira nº 28 da ACL.