Em nosso site, o artigo Poesia É a Fala da Alma, de minha Confreira Carolina Ramos, Membro da Academia Cristã de Letras, onde ocupa a Cadeira 22, sendo patrono Santo Agostinho, levou-me a algumas considerações que fiz há alguns anos.
Carolina Ramos, Poeta de extrema sensibilidade, estudiosa, inicia seu artigo, inquirindo e respondendo: Como definir a Poesia? Poesia é a fala da alma - é assim que apraz defini-la.
Comenta sobre técnica, rima, métrica... Sobre estas, assim escreveu: Rima e métrica são dois elementos que emprestam melodia, cadência e sonoridade ao verso. Em tempos idos, estes dois elementos eram indispensáveis para o endeusamento daqueles que as sabiam usar, quase que intuitivamente e com excepcional mestria.
O poeta, ao abandonar a métrica e dar as costas à rima, partindo para o rotulado estilo livre, tem por obrigação esmerar-se a fim de suprir esta preciosa dádiva poética que deliberadamente rejeita, para assim poder dizer-se livre e, não raras vezes, tranca-se num hermetismo que o separa do leitor levando-o à total perplexidade, aplaudido por vezes com certo constrangimento ou simples desejo de não descartar o autor,...
Mais adiante, assevera que: o bom poeta é livre sempre...
Interessante como certas similaridades permeiam o mundo dos Poetas, pois há alguns anos assim escrevi sobre o tema:
Costumo me valer da seguinte expressão: Fit Orator. Nascitur Poeta. O orador se faz. O poeta nasce.
Como explicar este sentir diferenciado do poeta?!
Difícil, com certeza.
Daí o refrão popular: De poeta e de louco, todo mundo tem um pouco.
O que é poesia? Ou melhor, o que é poética?!
Segundo o dicionário Michaelis: Poética é a arte de fazer versos. Conjunto de regras a observar na composição de obras poéticas. Poético: relativo ou próprio da poesia. Em que há poesia.
Poetizar (Poetar): Cantar em versos. Na Ilíada, Homero poetizou a guerra de Tróia. Poetizar a vida. Fazer versos.
Poeta (Poetisa): Que, ou aquele que faz versos. Que, ou aquele que devaneia ou tem caráter idealista.
Poesia e Poética: derivam histórica e semanticamente do grego poiesis (criação).
In “A arte do Poeta” de Murilo Araújo, ao se referir à poesia, o autor coloca que:
“Ela representa os seres mais humildes, os aspectos triviais ou até miseráveis da existência com auréola desconhecida, numa redenção transfigurada.”
Nos primórdios, a linguagem se dava por meio da poesia. A forma poética ajudava na memorização e transmissão oral nas sociedades antigas. Portanto, a poesia é a forma mais antiga de se expressar. O poeta, por sua vez, era considerado um deus!
Exagero à parte, temos que o poeta é aquele que sem saber onde, como, por que, lida com os sentimentos, a natureza, o social, enfim, com o mundo que o cerca de um modo diferenciado. Eu diria: não enxerga com os olhos físicos, mas com os olhos d` alma!
A poesia compreende aspectos que transcendem ao mundo fático. É uma das sete artes tradicionais, onde o imaginário, tanto do autor quanto do leitor, percorre caminhos inenarráveis! Tudo pode acontecer, dependendo da imaginação de cada um.
O poeta é um construtor, fabricante artificial, um criador. Pode se espelhar nas coisas da própria natureza ou em acontecimento concreto. Quando não, criando a partir de uma ideia imaginária. Tanto de um lado, quanto do outro, como naturalmente propende para a Estética: ciência da arte e da beleza, onde a emoção liga-se à realização artística. Seu imaginário nasce de um ideal que todo ser humano busca. O poeta consegue se expressar desta maneira, ou seja, através de poemas. Seu pensamento, por vezes, feitos de lugares-comuns e utilizando-se de metáforas, mas, com certeza, eivado de profundo sentimento. Esta a sua forma de ver e sentir, interpretar o mundo a sua volta.
Assim é que nem todas as coisas são poéticas. No entanto, pode se tornar poético para o poeta!
Qual o momento para o poeta expressar o que lhe vai ao intimo?
Naturalmente, que não é a qualquer hora, pois, certamente, não depende de sua vontade. Há o espírito criador. Este há de se manifestar. Para tudo que possa expressar vem sempre a palavra: Inspiração!
Dir-se-á que o poema nada mais é do que uma ilusão, que não espelha realidade alguma; que vem do imaginário. Todavia, a meu ver, o poeta consegue extrair da natureza o lado estético, pois consegue perceber os dois lados, tanto do mundo invisível quanto do mundo visível. Soma a parte emotiva com o lado artístico.
Para alguns, a poesia é o único meio de se atingir o belo!
Outro exagero, pois não há que se olvidar da música, da pintura, da dança, das esculturas, formas de expressão que inebriam e encantam, amenizando as agruras da vida.
Quanto mais conviva em ambientes saudáveis, tanto melhor para o poeta?! Será ele influenciável pelo meio em que convive?!
Temos que, Charles Baudelaire é o poeta do tormento humano, influenciado pelo grande amor passional por sua genitora, além dos conflitos com seu padrasto, sua vida amorosa, etc.
Outros poetas, como Castro Alves, conhecido como o Poeta Condoreiro, voltou-se para as causas sociais, especialmente para os Escravos, onde, no poema Navio Negreiro, narra a desdita dos escravos africanos nas naus cruéis. Também, um romântico, tendo versejado sobre suas amadas!
Casimiro de Abreu poetou sobre a saudade de sua terra natal, a casa paterna.
Fagundes Varella, autor do comovente poema “Cântico do Calvário”, em memória ao filho que perdeu com três meses de idade.
Cada poeta possui seu estilo, seu modus operandi, digamos assim. Ele passa a fazer de sua arte um oficio que vai aprimorando a cada dia. Torna-se único. Seu estilo é inimitável. É sua ferramenta pessoal. Não importa se poeta clássico, romântico, moderno...
Meu Abraço Poético à Carolina Ramos pela excelência de suas observações sobre a Poesia e Os Poetas.
Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL - Outubro/2020