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  • Fonte: Domingos Zamagna

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Em Minas Gerais, no Colégio Arnaldo de Belo Horizonte, tive um professor de História, religioso da Congregação do Verbo Divino, que costumava pilheriar com os alunos dizendo que “a História é a sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente”. Mas depois, passada a brincadeira, ele nos falava, com palavras adequadas para adolescentes, da História como processo, animado por uma espécie de dinamismo secreto (desígnio, o sôd, de Am 3,7) que se desvela no tempo e no espaço. História com suas chances e fracassos, contradições e conquistas. Falava com a experiência de longos estudos na Alemanha, duas guerras mundiais, uma impressionante fuga pela Sibéria, estadias no Japão e nos Estados Unidos, e muitos anos de magistério no Brasil, de coração transbordante de fé e amor. Saudades desses velhos mestres que nos enriqueciam cultural e moralmente, sem jamais envenenar as inteligências dos jovens com ideologias tolas e preconceitos.

O reinício do Ano Litúrgico, com o primeiro domingo do Advento e a preparação imediata para o Natal, nos proporciona a reflexão sobre o mistério da História e da sua salvação. A Bíblia entende a História como uma sucessão de gerações. E cada geração dá a sua contribuição para, guiadas todas pela Providência divina, descobrirem o desígnio de Deus, Desígnio de Deus é bem diferente de um peso que despenca de cima para baixo, mas uma energia que Deus suscita no coração de cada ser humano e de cada comunidade. Um desígnio sempre “novo”, mas um novo que não se reduz às “novidades”, que estas podem converter-se num retumbante, superado e estéril arcaísmo. Um novo que pode nos contagiar, transformar, e habitar permanentemente (Jo 1,14; 1Jo 1,1-3; Fl 2,6-8) entre nós pela pessoa e missão de um Menino-Deus, Jesus Cristo – Salvador (Deus conosco, Mt 1,23) – uma presença capaz de entranhar até mesmo no que alguns chamam de banalidade do quotidiano.

O que importa é saber que Deus – eterno em si mesmo – quis se relacionar com a nossa raça, e a “divinizou”, na forte expressão dos Padres Gregos. Tocou a fragilidade do tempo, a precariedade do espaço e as ambiguidades da História: enviando-nos o seu Filho para, pelo mistério da Encarnação, ser um de nós. Ele deu dimensão de santidade a todas as realidades humanas. Noutras palavras: deu-nos a possibilidade de nos subtrair à sedução mítica e idolátrica do quotidiano, que nos impedia de ampliar nossos horizontes. A graça que nos vem do Redentor nos projeta para além dos limites espaciais, temporais e históricos: “novos céus e novas terras”, como profetizou Isaías (65.16b-25; cf Ap 21,1-6).

O Ano Litúrgico da Igreja, que está prestes a se iniciar, é uma maravilhosa e atualíssima pedagogia: dia após dia, ciclo após ciclo, somos encaminhados – a história da Igreja é uma caminhada, uma “sinodalidade” (syn hodós) – para o esperançoso amadurecimento da fé e da missão, pelo exercício e aumento da compaixão, do amor/solidariedade (agápe) e o glorioso gozo da paz salvífica (Lc 1,79).